O Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos foi comemorado nesta sexta-feira (5) e na data, especialistas proveitaram para alertar sobre os riscos do uso indiscriminado. Segundo eles, os danos podem ser irreversíveis e até levar à morte. Entre os pacientes, os que se encontram em tratamento contra o câncer precisam de maior atenção.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o tripé preconizado é composto por doses adequadas às necessidades individuais, por um período correto e ao menor custo. A instituição aponta que mais da metade dos medicamentos são prescritos, dispensados ou vendidos de forma inadequada e metade dos pacientes não faz uso corretamente.
O Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox/Fiocruz) afirma que anualmente são registrados mais de 30 mil casos de internação por intoxicação medicamentosa, com cerca de 20 mil mortes no Brasil. Levantamento do Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico (ICTQ) feito em 2022 revelou que 89% das pessoas se automedicam no Brasil.
“A pesquisa do ICTQ mostra que os analgésicos estão no topo da lista, com 64%, seguidos dos antigripais (47%) e relaxantes musculares (35%)”, comenta Monique Almeida, farmacêutica da Clínica AMO, que pertence à Dasa, maior rede de saúde integrada do país. O estudo mostra que sintomas como ansiedade, estresse e insônia também são motivos para automedicação em, pelo menos, 6% da população.
O uso indiscriminado de medicamentos pode levar à resistência antimicrobiana, causar interação medicamentosa (inclusive anulando o efeito de alguma outra droga), alergia, intoxicação, efeitos colaterais adversos, dependência, retardar e agravar diagnósticos, mascarar doenças e até agravar outras, como as cardiovasculares, pois algumas fórmulas causam descompensação pressão arterial, fator de risco importante o acidente vascular cerebral (AVC) ou infarto. Isso sem considerar o impacto nos custos para o paciente e o sistema de saúde.
Pacientes oncológicos
No caso de pacientes em tratamento contra o câncer através da quimioterapia, o uso indiscriminado e a automedicação podem ter efeitos ainda mais severos, como alerta a oncologista Aknar Calabrich, da AMO. “Os pacientes oncológicos normalmente necessitam de diversas classes de medicamentos, que, se não adequadamente tomadas, podem interagir e intensificar efeitos adversos, levando a hospitalizações”, explica. “Isso ainda é mais grave em pacientes idosos, já que a idade está associada a alterações fisiológicas que interferem em muitos medicamentos”, completa a oncologista.
Sobre os riscos da automedicação, a médica diz ainda que “a prática pode interferir na eficácia dos tratamentos para o câncer, já que a metabolização ou absorção de vários remédios causa interação. Por isso, é muito importante conversar com seu oncologista sobre todos os medicamentos em uso”.
Como alerta Aknar Calabrich, estudos mostram que a automedicação pode atrasar o diagnóstico de alguns tipos de câncer, como gastrointestinal, uma vez que o paciente posterga a busca do auxílio médico adequado.