Exaustão, dores de cabeça frequentes, falta ou excesso de apetite… Apesar de serem normalizados, esses sintomas são indícios graves de que algo pode estar errado com o corpo. Um dos motivos pode ser a Síndrome de Burnout, um distúrbio psicológico relacionado ao trabalho, que resulta em estresse e sobrecarga emocional.
Desta forma, o programa Toda Hora, da rádio Salvador FM, entrevistou a psicóloga Laíse Brito, idealizadora da Clínica Baobá Saúde, voltada para os cuidados psicológicos de pessoas negras, e que abrirá as portas na próxima semana. Segundo a especialista, a doença se tornou um dos principais motivos de afastamento, inclusive pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Laíse alertou sobre a dedicação exagerada às atividades laborais, pois, segundo ela, quando uma pessoa ama o que faz, tende a não conseguir impor limites, e pode acabar se sobrecarregando sem perceber.
“Pessoas que amam o que fazem estão, muitas vezes, mais propensas ao Burnout, porque elas não vão ter esse filtro. Aquela história do ‘trabalhe com o que gosta e você não vai ter a sensação de estar trabalhando’. É mentira, porque você vai estar trabalhando. E quando você gosta, você acaba meio que se viciando naquilo. Você vai fazendo porque gosta, vai fazendo por prazer e você vai realmente não tendo esse limite do ‘que horas eu encerro o trabalho’ e ‘que horas eu desenvolvo outras coisas da minha vida?’. Porque o pessoal fala que trabalho não é vida pessoal, mas tudo é sobre você, tudo afeta sua vida”, destacou.
Durante a pandemia, devido à adoção em grande massa do trabalho home office, pessoas que passaram a lidar com a modalidade diariamente também estão mais propensas a desenvolver a Síndrome de Burnout. Isso porque, quando não há diferença sobre o lar e o ambiente laboral, pode haver uma confusão mental.
“Você não tem mais aquele marcador de ambiente e eles se misturam. As pessoas foram adequando o home office na sala, no quarto, fazendo um puxadinho em casa e o lugar de descanso vira lugar de trabalho, lugar de confraternizar com minha família também é lugar de trabalho. E essa mistura ficou mais desorganizada, difícil de separar”, explicou.
Sintomas
A especialista alertou, ainda que pacientes que sofrem com a Síndrome de Burnout tendem a relatar uma forte angústia nos momentos que antecedem o trabalho, e no momento em que estão no ambiente profissional.
Ela explica que acontece um estresse cronificado, e que, além da angústia relacionada ao trabalho, os sintomas podem abranger diversos outros fatores. Desta forma, pessoas com o diagnóstico estão sempre cansadas, exauridas e começam a perder o sentido tanto de atividades laborais, quanto pessoais.
“São pensamentos intrusivos que são recorrentes de acontecer. E no desempenho da atividade vai ter um comprometimento mesmo de saúde, de bem-estar, de se sentir confortável na execução. Por vezes, não só o acúmulo de função, mas o próprio ambiente de trabalho, o relacionamento com os colegas, a competitividade, não ascensão, marcação de território. Tudo isso vai somando muito sofrimento emocional, psíquico, e que por vezes vai comprometer o bem-estar e essa pessoa vai precisar ser afastada do ambiente de trabalho de forma pontual para tratamento, como psicoterapia e, em alguns casos, até o uso de medicação”, disse.
Para além dos sintomas psicológicos, há ainda os físicos, que costumam ser associados a outros problemas, sobretudo envolvendo o estômago. Os indícios são, facilmente, atribuídos a outras doenças, dificultando o diagnóstico.
“É uma desregulação neuroquímica, então a pessoa vai deixar de produzir uma quantidade satisfatória de saúde, hormônio do prazer como serotonina, dopamina, endorfina e isso vai desregulando o corpo e vai ter sintomas como insônia, cansaço, fadiga excessiva, falta de apetite ou excesso de apetite, sonolência, palpitação… Essa angustia muito marcada antes de chagar no trabalho e também ao executar o trabalho. Sintomas depressivos, sem ânimo para fazer coisas fora do trabalho, então as pessoas às vezes pegam aquela energia, conseguem ser produtivas, mas fora do trabalho não tem mais energia de socializar […] Não consegue desenvolver concentração para uma leitura, não consegue estudar, não consegue consumir nada para além do trabalho. Sintomas físicos também, que às vezes passa muito batido e a gente só atribui a alimentação: problemas estomacais. O nosso estômago é nosso segundo cérebro. Então o corpo vai denunciando e dando esses sinais”, pontuou.
Como agir?
Muitas vezes, a pressão de superiores e o medo da perda de emprego causam o acúmulo de trabalho e a impossibilidade de recusar e sair da situação.
No entanto, Laíse Brito deu dicas para que o profissional identifique a condição e tente buscar uma solução para o problema.
“O que eu sempre indico para as pessoas é que é para elas perceberem, estarem atentas. Esse acúmulo de função está vindo destinado de uma gerência, de uma chefia ou eu realmente vou pegando várias coisas? Então tem que desenvolver um diálogo mais flexível com os colegas para ir dando esse feedback para as pessoas, se realmente ela tá fazendo tudo o que ela precisa fazer ou está fazendo a mais. Então, delegar e redistribuir algumas atividades, se perceber essencial. E ter uma vida além do trabalho, porque a gente precisa existir para além do trabalho. O trabalho não pode ser o início e o fim do nosso interesse por viver”, destacou.
Desta forma, para evitar o desenvolvimento da síndrome, assim como para curar aqueles que já passam pela situação, a psicóloga deu dicas para uma rotina melhor. É necessário, sobretudo, estar atento à qualidade do sono.
“Desenvolver uma rotina que desacelere e olhar pro sono. Eu preciso preparar o meu corpo para descansar. O corpo precisa entrar em um sono mais profundo, que cause realmente descanso, porque uma pessoa quando tá em um sofrimento emocional tem a sensação de que bateu na cama e acordou de manhã. Acorda por exaustão. Dorme cansada e acorda cansada, com a sensação de que não descansou. Então o corpo tá dizendo que não tá relaxando. Então tem que escolher um horário regular pra dormir, silenciar a casa, organizar. Cuidar do sono, cuidar da vida social, ter lazer e fazer coisas interessantes para além do trabalho”, sugeriu.
Assista a entrevista completa:
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