Saúde

Pandemia causa impactos na alfabetização de crianças

Com a percepção dos déficits, surgiu o trabalho Alfabetização e Infância em Tempos de Pandemia, apresentado em agosto no 5º Congresso Brasileiro de Alfabetização

Reprodução/UNICEF
Reprodução/UNICEF

Segundo um levantamento feito pelo professor do Instituto Classe Comunidade de Aprendizagem do Paranoá, no Distrito Federal, Mateus Fernandes de Oliveira, através da Agência Brasil concluiu que as desigualdades se acentuaram durante a pandemia.

Segundo o professor, aqueles alunos que vêm de um contexto familiar em que a leitura faz parte do cotidiano, em que há livros e revistas em casa, voltam as aulas pós pandemia sem muito déficits na alfabetização. Já aqueles que moram em casas com pouca ou nenhuma leitura, às vezes sem mães e pais alfabetizados, acabam tendo um conhecimento aquém do esperado, principalmente em crianças com 8 ou 9 anos de idade no terceiro ano do ensino fundamental. 

"Não dá para considerar este ano letivo como qualquer outro. É pensar este ano e o seguinte como duas coisas contínuas, porque senão a gente se exaspera e atropela os processos. Atropela o tempo de entender o que a gente sentiu e o que está sentindo e de perceber que caminhos pode trilhar. A gente pode acabar até gerando o contrário do que gostaria. Em princípio, é preciso ter calma e, ao mesmo tempo, saber que não temos tempo a perder". 

Trabalhando na linha de frente social da pandemia nas escolas de Brasília, Oliveira conta que nos últimos 18 meses, precisou lidar com diversas situações, incluindo famílias de estudantes com fome. Foi preciso que a escola se organizasse para distribuir cestas básicas nas casas dos alunos. 

"A gente estava falando de falta de alimentos em casa. Famílias passando por necessidades. Não era possível cobrar de uma família que estava preocupada com alimentação que desenvolvesse um processo de escolarização em um momento como este. A gente entendeu que a escola pública, como parte do Estado, tem responsabilidade social. O Estado deveria cuidar das necessidades básicas, mas não estava dando conta. A escola teve que se mobilizar".

Em um experimento social, com a retomada das aulas no ensino básico, outros professores pediram para que os alunos desenhasse e, se soubesse, escrevesse os nomes dos animais. Foi assim que o conselho avaliou que os alunos tinham dificuldades sérias com o "semi-fim" da pandemia. Com base nas atividades desenvolvidas com as crianças, surgiu o trabalho Alfabetização e Infância em Tempos de Pandemia, apresentado em agosto no 5º Congresso Brasileiro de Alfabetização.

No Brasil, 11 milhões de pessoas são analfabetas. São pessoas de 15 anos ou mais que, pelos critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não são capazes de ler e escrever nem ao menos um bilhete simples. 

Pelo Plano Nacional de Educação (PNE), Lei 13.005/2014, que estabelece o que deve ser feito para melhorar a educação no país até 2024, desde o ensino infantil até a pós-graduação, o Brasil deve zerar a taxa de analfabetismo até 2024.