A campanha Outubro Rosa é mundialmente conhecida devido a missão de conscientizar a população sobre a importância da prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama, sobretudo em mulheres. No entanto, apesar de não terem as mamas desenvolvidas, os homens também possuem tecido mamário e correspondem a 1% dos pacientes.
Em dados divulgados pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), a estimativa é de 73.610 novos casos de câncer de mama em 2023, sendo 740 deles em homens.
“Como é uma doença muito rara, dificilmente um homem vai suspeitar que nódulo no mamilo pode ser inicialmente um câncer de mama. Por causa disso, muitas vezes os pacientes acabam demorando um pouco mais para procurar um especialista”, explicou o oncologista clínino especializado oncogenética, Dr. Rodrigo Guindalini em entrevista ao Portal Salvador FM.
De acordo com o especialista, mesmo diagnósticos em homens demorando mais para serem realizados, a maioria identifica a doença ainda com potencial de cura, sendo apenas 5% dos casos descobertos em estágio avançado.
Edson Leonardo, que foi paciente do Dr. Rodrigo, descobriu a doença em fevereiro, aos 68 anos, meses após notar a presença de um nódulo. Ele resolveu procurar um mastologista e, após a realização de uma mamografia, foi constatado o câncer de grau 2.
“Há pouco mais de um ano eu notei um nódulo pequeno na mama esquerda, que não doía. Eu sempre tive um cuidado grande com a saúde, mas como foi coisa pequena, fui deixando, pois estava sem plano de saúde […] A gente sabe que tanto homem quanto mulher tem hormônio feminino. Eu sabia da possibilidade de câncer de mama em homens, mas sabia que o percentual era muito baixo. Os meses passaram e o nódulo continuava, então comecei a achar estranho e, na dúvida, fui investigar”, contou Edson.
Dr. Rodrigo pontua que, normalmente, os nódulos são indolores e, por isso, é importante se atentar aos sintomas como alterações no formato do mamilo, presença de massa e também alteração na pele, como vermelhidão, além de gânglios aumentados na região da axila.
Por se tratarem de nódulos indolores, na maioria dos casos, a doença pode ser descoberta por acaso, como aconteceu com Adilson Noventa, que aos 46 anos, descobriu a doença após uma partida de futebol.
“Eu estava numa brincadeira de futebol e tomei uma bolada no peito. No dia seguinte, estava tudo roxo, e então procurei um médico. Nunca tinha ouvido comentários que homens poderiam ter CA na mama e na família ninguém teve câncer. Os homens devem fazer o autoexame, assim como as mulheres fazem, e prevenir que este mal se alastre”, alertou Adilson.
SISTEMA DE SAÚDE
Também sem histórico de câncer de mama na família, Edson se assustou com o diagnóstico, mas se apegou na fé em Deus para superar o desafio e dois versículos foram fundamentais para o processo: Romanos 8:28 e Provérbios 18:24. Além disso, ele contou com o apoio de familiares e amigos, que lhe deram suporte emocional e financeiro, e expressou imensa gratidão a todos os profissionais que lhe atenderam, em especial a Drª Cláudia Goes, mastologista responsável por realizar sua cirurgia.
“Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus. Existem amigos mais chegados que irmãos. Quando recebi o diagnóstico, meus amigos contribuíram comigo e o pessoal da igreja completou. Em uma semana marquei a cirurgia e tirei a mama completa, não quis fazer plástica. Como o nódulo estava contido, não precisei passar nem por radioterapia e nem por quimioterapia”, contou Edson.
Hoje, ele toma comprimido diariamente, fornecido pelo hospital, para inibir o hormônio feminino. Já Adilson, finalizou o tratamento, mas encontrou dificuldades durante o diagnóstico.
“Os mastologistas só queriam atender mulheres e, por intermédio de uma amiga enfermeira, consegui atendimento no CICAN [Centro Estadual de Oncologia]. Após estar em atendimento não tive mais problemas. Fiz os exames e logo fui ao Aristides Maltez, onde passei por cirurgia, quimioterapia e radioterapia e depois tratamento com medicamento via oral. Todo o processo foi feito pelo SUS e com profissionais competentes”, lembrou Adilson.
FATOR GENÉTICO
Em fase de tratamento, Edson tinha outra preocupação. Com três filhos e cinco netos, ele temia que, devido ao fator genético, sua família pudesse enfrentar o mesmo desafio. Foi desta forma que Dr. Rodrigo entrou em sua vida. Após a consulta, o risco de câncer de mama nos familiares foi descartado, no entanto, o caso serviu de alerta à filha, que investigou um caroço na tireóide e descobriu se tratar de um nódulo.
“Acreditamos que cerca de 20% dos casos de cânceres de mama podem ter ocorrido por forte influência de um fator genético hereditário […] Todos os homens com diagnóstico de câncer de mama devem ser encaminhados para fazer uma aconselhamento genético que vai culminar num teste genético para investigar a possibilidade de mutações em genes de predisposição a câncer. […] No momento em que você encontra uma alteração genética em um paciente que desenvolveu o câncer de mama masculino, essa alteração tem 50% de chance de ser transferida para em seus descendentes, sejam eles homens ou mulheres […] Os genes normalmente associados ao câncer de mama em homens também podem aumentar o risco de câncer de próstata”, explicou Dr. Rodrigo.