No cenário pós-pandemia, a atenção à saúde respiratória e aos pulmões foi ressignificada. Com as mais de 660 mil mortes por Covid-19, nos últimos dois anos, o cuidado com a saúde ficou em evidência. Entretanto, no Dia Mundial de combate ao tabaco, celebrado nesta terça-feira (31), o aumento no uso dos cigarros eletrônicos tem chamado a atenção dos especialistas.
O pneumologista e coordenador do ProAr da Universidade Federal da Bahia, Adelmir Machado, em entrevista ao Portal Salvador FM, falou sobre a importância do dia na luta contra o tabagismo e a relação com a pandemia. “Realmente, durante a pandemia, várias doenças foram negligenciadas, especialmente as doenças pulmonares. O dia mundial de combate ao tabaco normalmente é celebrado em maio e foi uma iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), no ano de 1987, e tem como objetivo principal divulgar, orientar e educar a sociedade e os indivíduos sobre os malefícios do uso de tabaco, seja ele qual for, cigarro, charuto, cachimbo, qualquer um desses produtos”, sinaliza o médico.
Machado comentou também sobre os componentes dos vaporizados. “Os cigarros eletrônicos são um dispositivo que vaporiza os componentes do tabaco, inclusive a nicotina. Não existem cigarros eletrônicos sem nicotina, então o principal componente, que inclusive vicia o indivíduo está presente nesses dispositivos. São dispositivos que a critério não deveriam ser comercializados porque, até onde sei, não tem o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)”, pontuou o médico.
Segundo o relatório do Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia (Covitel), pelo menos 1 a cada 5 jovens de 18 a 24 anos usa cigarros eletrônicos no Brasil, ou seja, 19,7%. Ainda de acordo com a pesquisa, a prevalência está nos homens em todas as faixas etárias, em que o índice é de 10,1% entre eles, contra 4,8% entre as mulheres.
O empresário e dono da tabacaria “Só Shape”, no Rio Vermelho, Leonardo Lisboa reforçou que existem dois públicos que consomem fortemente os vaporizadores. “Um público são os jovens entre 18 e 20 anos, que conheceram o produto há pouco tempo e acabam consumindo por estar no hype. E a galera de 30 anos para cima, que optaram por trocar o cigarro normal pelos eletrônicos”, declarou.
Ele destacou ainda a facilidade em que os jovens têm de consumirem, por atrativo, os cigarros eletrônicos, e pontuou também que, pelos vaporizadores não terem restrição quanto ao uso em espaços, isso leva ao aumento no consumo. “Menores de idade conseguem facilmente, os jovens começam a assumir por ser mais atrativo, mais fácil e na moda. Com isso, esses jovens começam a consumir nicotina, que é uma substância viciante e, a longo prazo, causa dependência e problemas de saúde. Além disso, pessoas que já consumiam cigarro ou tabaco, começaram a usar para consumirem menos, mas, ao invés disso, acabam utilizando mais ainda”, destaca o empreendedor.
Para o especialista, “a procura é alta porque os indivíduos, especialmente os que usam mais frequentemente esses dispositivos, imaginam que não causa nenhum impacto, mas os malefícios principais são os mesmos do cigarro, os problemas respiratórios como a piora das armas, de uma doença respiratória obstrutiva, cardiovasculares, não há diferença entre os vaporizadores e o uso de tabaco”, sinalizou.
De acordo com a OMS, o tabagismo mata mais de 7 milhões de pessoas por ano. Destas, 6 milhões correspondem a fumantes e fumantes regulares de tabaco, enquanto que cerca de 890 mil correspondem a fumantes passivos, que estavam expostos à fumaça do cigarro.
O médico ressalta que o uso de tabaco ou dos vaporizadores eletrônicos aumenta a possibilidade do indivíduo possuir uma infecção respiratória, uma vez que esses produtos inflamam e irritam as vias respiratórias, a traqueia, brônquios e pulmões. “Não há benefício ao fumar, muito menos ao fumar os vaporizadores”, diz o pneumologista.