Apesar de ser aconselhado por assessores a demitir seu ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, o presidente Michel Temer avaliou que tomar essa medida seria uma admissão oficial de que seu assessor vazou uma operação da Lava Jato e decidiu mantê-lo em sua equipe.
Irritado com as declarações de Moraes, dadas no domingo (25) afirmando que "nesta semana" haveria mais uma fase da Lava Jato, Temer cobrou explicações.
Os dois se falaram por telefone, quando Moraes repetiu o que já dissera momentos antes à imprensa, que sua intenção era dizer que as operações não iriam parar nem ter interferência do governo.
Ele disse só ter sido informado da nova etapa da Lava Jato, que prendeu o ex-ministro Antonio Palocci, quando a operação já estava sendo realizada nesta segunda (26).
Segundo assessores, Temer aceitou as explicações, mas cobrou dele que pare de dar declarações "desastrosas" e seja mais "cuidadoso".
A Folha apurou que alguns interlocutores do presidente defenderam a demissão do ministro da Justiça, para dar um exemplo de que nem os amigos dele seriam poupados em caso de gerar confusões.
Pesou, porém, a avaliação feita por assessores com o presidente de que, em primeiro lugar, Moraes realmente não teria tido a intenção de vazar uma operação da Lava Jato. E que sua demissão seria uma admissão de culpa do governo e traria, de vez, o foco do dia para o Planalto.
Temer queria se encontrar pessoalmente com Moraes, mas o ministro só chega a Brasília nesta terça (27). O presidente decidiu que terá conversa particular de "enquadramento" com todos os ministros que têm dado declarações "desastrosas".
Além de Moraes, estão na lista Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo), Ricardo Barros (Saúde) e Ronaldo Nogueira (Trabalho).
Depois, Temer estaria disposto a não ter mais tolerância com esses ministros. Segundo interlocutores, dois nomes da lista já estariam na "marca do pênalti" e correm risco de demissão em caso de reincidência: o próprio Moraes e Ricardo Barros.
O Ministério da Justiça resolveu divulgar, nesta segunda (26), o vídeo do momento em que o ministro dá a declaração. As imagens foram feitas em Ribeirão Preto (SP) em um evento de campanha do candidato a prefeito Duarte Nogueira (PSDB), do mesmo partido de Moraes.
No vídeo, o ministro aparece entre ativistas de grupos anticorrupção e pró-impeachment e diz a eles que a Lava Jato tem apoio do governo Michel Temer. "Teve [operação] a semana passada e esta semana vai ter mais, podem ficar tranquilos. Quando vocês virem esta semana, vão se lembrar de mim", diz Moraes, em meio a risos.
Não é usual que ministros saibam com antecedência de operações realizadas pela PF.
A ex-presidente Dilma Rousseff disse que o episódio lança suspeitas de uso político da Lava Jato. As liderança do PT na Câmara e no Senado vão apresentar representação ao Ministério Público e à Comissão de Ética da Presidência contra o ministro.
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