Política

Senadores apoiam Aziz após prisão na CPI

Esperam haver um enfraquecimento do grupo de oposicionistas e independentes que hoje controla a comissão.

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Auxiliares do presidente Jair Bolsonaro dizem ter considerado uma arbitrariedade a prisão do ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias durante depoimento na CPI da Covid e esperam haver um enfraquecimento do grupo de oposicionistas e independentes que hoje controla a comissão.

Os membros do colegiado, por sua vez, reconhecem que houve um certo mal-estar, mas buscaram mostrar nesta quinta-feira (8) unidade, apoiando publicamente o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM).

Logo após a prisão de Dias, exonerado do cargo na semana passada após denúncia de pedido de propina revelada pela Folha, integrantes do Planalto afirmaram que o ato foi desmedido e acusaram Aziz de abusar de suas prerrogativas.

Na audiência, Aziz afirmou que o depoente mentiu em diversos pontos de sua fala e por isso determinou que a Polícia Legislativa recolhesse o ex-diretor.

"Ele está mentindo desde a manhã, dei chance para ele o tempo todo. Pedi por favor, pedi várias vezes. E tem coisas que não dá para… Os áudios que nós temos do [Luiz Paulo] Dominghetti [vendedor de vacinas] são claros", afirmou Aziz. "Ele vai estar detido agora pelo Brasil, pelas vítimas que morreram."

Ao justificar a ordem de prisão, Aziz citou áudios revelados pela CNN Brasil que contradizem a versão do ex-diretor sobre o encontro com Dominghetti, representante da empresa Davati Medical Supply.

Dominghetti disse à Folha que o então diretor de Logística da Saúde cobrou propina de US$ 1 por dose em um jantar em um restaurante de Brasília, em 25 de fevereiro deste ano. A negociação envolveria 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca contra a Covid.

Apresentados na CPI, os áudios são de 23 de fevereiro, dois dias antes do jantar. Neles, Dominghetti afirma a um interlocutor que "a compra vai acontecer", o processo está "na fase burocrática" e Dias irá assinar. Ele ainda afirma que faria reunião no dia 25 —data do jantar—, para "finalizar com o ministério".

Após a prisão, ministros de Bolsonaro reconheceram reservadamente que outros depoentes também entraram em contradição na CPI, mas não foram presos. Por isso, o espanto com a decisão de Aziz.

No entanto, eles comemoraram o fato de a prisão não ter recebido o respaldo de todos os senadores do chamado G6 —grupo de seis senadores independentes e da oposição. A comissão é formada por 11 titulares.

A torcida no Planalto é para que a divisão marque um racha no grupo. A expectativa deles é que a ala majoritária da CPI perca força e enfrente novas dificuldades de coordenação, beneficiando o governo.

Do lado da CPI, porém, o dia seguinte à prisão foi marcado pelo apoio a Aziz, ao menos publicamente. Senadores reconhecem que houve um mal-estar a respeito da prisão, pois o presidente teria tomado a decisão unilateralmente, sem articular com seus aliados na CPI.

Também consideram que não era o momento, principalmente após a recusa de Aziz em determinar a prisão de depoentes anteriores, como o ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten e o policial militar Dominghetti.

Um integrante do grupo majoritário reconhece que houve mal-estar, mas afirma que não houve discórdia profunda ao ponto de rachar o grupo. Lembra que a negativa de prender Wajngarten também havia provocado divisão momentânea, mas que isso foi rapidamente contornado.

Esse mesmo senador afirma que o grupo também vem obtendo sucesso ao contornar uma outra questão delicada, a respeito da política do estado do Amazonas. Aziz foi cobrado por perseguir adversários estaduais, com requerimentos de quebra de sigilo.

A iniciativa vem causando incômodo principalmente por afetar aliados de Eduardo Braga (MDB-AM), também membro da CPI e que se afastou recentemente do grupo majoritário. Até o momento, afirma esse senador, nada disso rompeu a unidade

Alessandro Vieira (Cidadania-SE), peça importante do grupo, chegou a criticar a prisão de Dias quando ela foi determinada. "A gente não colocou um general [Eduardo Pazuello] que estava mentindo na cadeia, a gente não colocou um [Fabio] Wajngarten", disse.

O senador afirma que a divergência naquele momento se deu por uma questão técnica e descartou qualquer tipo de racha no grupo que comanda a CPI.

Acrescenta que a unidade no grupo e na CPI como um todo ainda foi reforçada pela nota do Ministério da Defesa na quarta-feira (7), que repudiou declarações de Aziz e, em tom de ameaça, afirmou que “as Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro".

“O ataque das Forças Armadas ontem ajudou a fortalecer a nossa união. Por causa da seriedade da situação, ficou ainda mais evidente a necessidade de trabalharmos unidos”, afirmou Vieira à Folha.

Otto Alencar (PSD-BA) também havia criticado a prisão no dia em que aconteceu, mas não fez nenhuma menção ao episódio na sessão desta quinta-feira.

Os demais senadores da oposição ou independentes demonstraram apoio público a Aziz.

Humberto Costa (PT-PE) disse que a comissão tratou Dias da forma "mais digna possível".

"O presidente da CPI já tinha dito por mais de uma vez que iríamos chegar na situação limite em que o perjúrio se transformava em afronta à própria CPI", disse o petista.

Já a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) avaliou que a prisão teve "efeito pedagógico". "Mentir aqui é passível sim de prisão."

Simone Tebet (MDB-MS), que não é membra da comissão, mas comparece a todas as sessões e vem se destacando nas inquirições, afirmou que os questionamentos a respeito da prisão se deram pelo momento e não pela fundamentação.

“A CPI voltou aos eixos. Vamos serenar os ânimos [após a prisão], mas fica como lição de que a comissão precisa ser respeitada, que os depoentes precisam honrar com a verdade”, disse.

Já senadores governistas pediram para a CPI delimitar melhor se o depoente é testemunha ou investigado —este tem mais possibilidades de não responder às perguntas para evitar criar provas contra si mesmo.

Ciro Nogueira (PP-PI) disse que a comissão deve parar de convocar como testemunha pessoas que já estão sendo investigadas ou tiveram sigilos quebrados. "Ou vamos então convocar como investigados."

Já Marcos Rogério (DEM-RO) defendeu que é preciso deixar claro "desde o início" se o depoente é testemunha ou investigado.