Política

'Se começar nesse tom comigo, a gente vai ter problema', diz juíza a Lula

Ao ser questionado pela magistrada, petista disse que não sabia do que estava sendo acusado

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Lula presta depoimento à juíza Gabriela Hardt, que substitui o juiz Sergio Moro na 13ª Vara Federal de Curitiba Foto: Reprodução

 

A juíza Gabriela Hardt , que substituiu Sergio Moro no interrogatório do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta quarta-feira, advertiu o ex-presidente logo no início da sessão, após o petista questionar se era ou não dono do sítio de Atibaia. 

Ao iniciar o depoimento, a magistrada fez uma pergunta de praxe ao petista, questionando-o se sabia da acusação à qual estava se defendendo, mas se surpreendeu com a resposta do petista, que negou.

Após um breve resumo feito por Gabriela Hardt, lembrando o ex-presidente de que era acusado de ser o beneficiário de reformas feitas no sítio de Atibaia, Lula respondeu que achava que a acusação era de que respondia à denúncia de ser o dono da propriedade.

– Mas, doutora, eu só queria perguntar, para o meu esclarecimento, porque eu estou disposto a responder toda e qualquer pergunta: eu sou dono do sítio ou não?

– Isso é o senhor quem tem que responder, não eu, doutor, e eu não estou sendo interrogada nesse momento – respondeu Hardt.

 Não, quem tem que responder é quem me acusou – disse Lula.

– Doutor, e assim, senhor ex-presidente, esse é um interrogatório e se o senhor começar nesse tom comigo a gente vai ter problema – disse Hardt, que completou: – Então, vamos começar de novo: eu sou a juíza do caso, eu vou fazer as perguntas que eu preciso para que o caso seja esclarecido para que eu possa sentenciá-lo ou para que um colega possa sentenciá-lo. Num primeiro momento, você tem direito de ficar em silêncio mas, nesse momento, eu conduzo o ato.

Após a advertência da juíza, o advogado José Roberto Batochio afirmou que o ex-presidente tinha, naquele momento, sua oportunidade de falar no processo e tinha liberdade para questionar sobre sua acusação. Neste momento, a juíza repreendeu o advogado:

– Eu posso fazer as perguntas ao seu cliente? O senhor o orientou do que está sendo acusado nesse processo? Ele está apto a ser interrogado ou o senhor precisa sair dessa sala e conversar com ele e ele retornar? – disse a juíza.

Hardt, então, retorna para Lula e questiona se ele já está apto a começar a responder as questões.

– E quando eu posso falar, doutora? – disse Lula.

– O senhor pode falar, responder, quando eu perguntar no começo – respondeu Hardt.

 Mas pelo que eu sei, é meu tempo de falar – afirmou Lula.

– Não, é o tempo de responder às minhas perguntas. Eu não vou responder interrogatório nem questionamentos aqui. Está claro? Que eu não vou ser interrogada? – questionou a juíza.

– Eu não imaginei que fosse assim. Como eu sou vítima de uma mentira…

– Eu também não imaginava, então vamos começar com as perguntas. Eu já fiz o resumo e vou fazer perguntas: O senhor fica em silêncio ou o senhor responde.

Lula e a juíza Gabriela se desentenderam também quando o ex-presidente tentou dizer que quem entende de cozinha é mulher.

– Não sei se a senhora é casada, mas seu marido entende pouco de cozinha, como eu.

Gabriela disse que é divorciada e não discute nada de cozinha. Em outro momento do depoimento, Lula relembrou da discussão no início. O petista disse no depoimento que só soube que a Odebrecht havia realizado obras no sítio quando foram publicadas reportagens sobre o assunto. O representante do Ministério Público Federal perguntou se, ao saber disso ele, procurou Emilio Odebrecht, acionista da empresa, para pagar pelos trabalhos.

– A chácara não é minha. Portanto quem tinha que falar de obra da chácara era quem é dono da chácara. Não era da minha competência – responde o ex-presidente. 

Em seguida, o procurador questionou se Lula havia conversado com a sua mulher, Marisa Leticia, sobre o assunto.  O ex-presidente se queixou de uma suposta repetição de perguntas e usou a fala da juíza no início da audiência para reafirmar não ser dono da propriedade:

– Nunca conversei com ninguém sobre as obras do sítio de Atibaia porque eu queria provar que o sítio não era meu. E hoje aqui nessa tribuna  vocês deram testemunho: o sítio não é do seu Lula, graças a Deus.

Gabriela Hardt rebateu disse que o processo não tratava da propriedade do sítio, mas negou ter afirmado na audiência que a propriedade não era dele. 

 

Globo /// Figueiredo