A engenhoca clandestina da empreiteira servia para driblar não apenas a legislação, mas também os próprios candidatos. Em seus depoimentos, vários delatores da Odebrecht afirmaram aos procuradores que o caixa dois também era útil para evitar a ciumeira.
"Nós tomávamos o cuidado de não dar muito para um partido em detrimento de outro de forma lícita. Se um partido tinha direito a um valor maior, ia de forma ilícita", disse Luiz Eduardo da Rocha Soares, gestor entre outras da planilha futebolística.
Ele disse que controlava tanto os pagamentos lícitos, que saíam da tesouraria corporativa da empresa, como os ilícitos, para os quais era acionado o Setor de Operações Estruturadas, vulgo departamento de propina.
Segundo Soares, as planilhas misturavam caixa um e caixa dois. Primeiro eram determinados os valores cabíveis a cada candidato. "A decisão se era lícita ou não era posterior", afirmou.
"Nós não gostávamos de fazer muitos pagamentos lícitos, porque chamava muita atenção. Se a gente fosse pagar tudo de forma lícita daria US$ 100 milhões de doação eleitoral da Odebrecht."
Vistas do ponto de vista sociológico, as planilhas da Odebrecht mostram que a cultura militar do Brasil com o tempo vai ficando para trás. De acordo com a delação de Soares, inicialmente os candidatos eram classificados seguindo a hierarquia do Exército. "Capitão era presidente, tenente era governador, sargento era deputado federal e cabo, estadual."