Segundo o jornal Folha de São Paulo, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) adicionou uma carta aos jogadores da seleção brasileira em nome da CPI da Covid-19 dizendo que a realização da Copa América no Brasil é "um mau exemplo" na "iminência de uma terceira onda da pandemia" no país.
O senador, que é relator da CPI, afirma que a reflexão foi sugerida pela equipe técnica da comissão.
Ela elencou quatro razões para que o torneio não seja realizado: o número de pessoas plenamente vacinadas no país, com duas doses de imunizantes, chega a apenas 10,7% da população, o país já tem 470 mil mortos e está na iminência de uma terceira onda da Covid-19, setores tentam forçar a realização da Copa América, "ou não", como um ato político, e seguir os protocolos internacionais neste momento grave é questão puramente técnica.
A carta coincide com o pensamento dos atletas da seleção, que se rebelaram nos bastidores e não querem disputar o torneio no Brasil.
Leia, abaixo, a íntegra da carta:
Por que a Copa América no Brasil é um mau exemplo
Esta reflexão, sugerida pela equipe técnica da CPI da Covid-19 no Senado Federal, é endereçada à Comissão Técnica da Seleção Brasileira e aos nossos craques, ídolos e atletas. Nosso modesto propósito é informar, alicerçados em argumentos estritamente técnicos, sem qualquer viés político. As razões para a realização da Copa América na iminência de uma terceira onda da pandemia no Brasil não corresponde à opção sanitária mais segura para o povo brasileiro.
1) O número de brasileiros vacinados representava, na totalização do dia 04/06/2021, apenas 10,77% do total da população. Isso o coloca o país na posição do número 64 no ranking mundial de vacinação adotando-se o critério de porcentagem da população imunizada / 100 mil habitantes. O Brasil não oferece segurança sanitária de acordo com dados objetivos para a realização de um torneio internacional dessa magnitude no país. Além de transmitir uma falsa sensação de segurança e normalidade, oposta à realidade que os brasileiros vivem, teria o efeito reprovável de estimular aglomerações e transmitir um péssimo exemplo. Pelo atraso da vacinação estamos muito distantes da cobertura vacinal mínima para pensar em retomadas da vida normal;
2) O Brasil, onde pretensamente se realiza a Copa América, registra hoje a trágica marca de mais de 470 mil mortos pela pandemia. Estamos vivendo um dos momentos mais obedecida da doença, sob o risco concreto de uma terceira onda mais severa e, como constatado, com a população ainda não imunizada em percentuais seguros. Morrem em média perto de 2 mil brasileiros todos os dias vitimados pela doença e o colapso do atendimento hospitalar se avizinha. Isso significa que a cada partida de futebol da Copa América, de 90 minutos, mais de 120 brasileiros estariam morrendo ao mesmo tempo. Futebol é uma das maiores expressões da alegria. Há alegria em uma situação como essa?
3) Temos ciência da divisão existente no Brasil. Alguns setores tentam forçar a realização da Copa América, ou não, como um ato político. Como se a neutralidade única fosse obedecer sem questionar. Por isso, trazemos a esses argumentos argumentos nitidamente técnicos. Para muito além da política, há uma discussão entre a ciência em concessão ao negacionismo.
4) Pensem na preparação técnica de todos, nos treinamentos, deslocamentos, transportamentos, na meticulosa rotina de exercícios, na equipe de profissionais médicos, fisioterapeutas, nutricionistas e tantos outros. Pensem nos esquemas táticos, nas técnicas que cada um concessão para alcançar o seu auge de desempenho como atleta. Há como negar que todos esses avanços são fundamentais? Essas rotinas e protocolos são “políticos”, como que todos vocês praticam todos os dias para manter uma performance altíssima que é exigida de um atleta? Claro que não. Assim como não é político seguir protocolos internacionais num país que enfrenta um grave momento pandemia.
Não somos contra a Copa América no Brasil ou em qualquer outro lugar. Mas acreditamos que o torneio pode esperar até que o país esteja preparado para receber-lo, assim como já aconteceu pela primeira vez na história com uma competição muito mais importante, como Olimpíadas do Japão. Não realizar e não participar da Copa América no Brasil não é um ato político, é um gesto de respeito à vida de milhões de famílias enlutadas pela morte e por cicatrizes incuráveis. É adotar a mesma disciplina técnica e científica que todos da Comissão Técnica e todos os jogadores obedecem, desde sempre, todos os dias. "