Elmano e Telmário podem mudar seus votos na última sessão do impeachmentAs alianças fechadas pelo PT para as campanhas a prefeito e vereador deste ano devem ampliar a derrota da presidente Dilma Rousseff na votação final sobre o processo de impeachment, que começa nesta quinta-feira (25) no Senado. As decisões dos diretórios municipais do partido da presidente afastada desagradam e até constrangem aliados entre os senadores que, até o início desta semana eram contra o impeachment – aumentando, consequentemente, as possibilidades de votos a favor do afastamento definitivo da petista.
Considerado voto certo contra o impeachment, o senador Telmário Mota (PDT-RR) perdeu a convicção para votar contra o afastamento de Dilma por crime de responsabilidade. Ferrenho defensor da presidente tanto na comissão processante do Senado quanto em plenário, Telmário diz estar “chateado” com a decisão do diretório municipal do PT em Boa Vista de romper de forma unilateral o acordo fechado com o partido do senador, o PDT, e não mais apoiar o candidato Jefferson Alves, seu afilhado político, à prefeitura da capital.
“Eles (o PT) me enrolaram até a última hora e romperam o acordo e a aliança fechada conosco. Me sacrifico na minha base e aqui no Senado para apoiar a presidente e, depois, o PT não leve isso em consideração. Estou chateado porque não senti interesse pela parceria”, queixou-se Telmário ao Congresso em Foco, completando: “Já não estou mais convicto de votar contra o impeachment”.
Em Boa Vista, a aliança entre PDT, PCdoB, Rede, PHS e PDT daria ao candidato aliado de Telmário dois minutos e 10 segundos de tempo de propaganda eleitoral no rádio e na TV. Com o rompimento do PT e, em consequência, do PCdoB, deixou o candidato do PDT com apenas 36 segundos de tempo de propaganda. “Se o candidato do PT tivesse chance, tido bem. Mas o nome é desconhecido”, reclama Telmário. O senador conta que o candidato petista, o professor Roberto Ramos, nem ao menos compareceu às passeatas convocadas em Boa Vista em apoio a Dilma.
Defecções
A mesma crise aconteceu há pouco mais de um mês com o senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE). O filho do senador, deputado Valadares Filho, concorrerá em outubro à Prefeitura de Aracaju. Antes de se lançar candidato, o deputado e seu pai tentaram fechar um acordo com o PT local para que o partido de Dilma Rousseff apoiasse o socialista no pleito municipal. Mas não teve apelo que demovesse os petistas da decisão de lançar um nome próprio.
“Não contem comigo na votação do impeachment”, disse Valadares aos colegas senadores do PT. Nesta semana, o senador confirmou o voto pelo afastamento definitivo de Dilma.
Outras defecções estão sendo calculadas pelos senadores petistas. Uma delas deve ser a do senador Elmano Férrer (PTB-PI). Aliado do governador petista Wellingon Dias (PI), Férrer não é mais voto certo contra o impeachment, como estava sendo contabilizado há duas semanas. Uma conversa do senador piauiense com o presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), há uma semana, deixou Férrer em dúvida. O argumento utilizado por Renan foi que o senador perderia a interlocução com o governo do presidente interino Michel Temer com a provável aprovação do impeachment, com a consequente posse definitiva do peemedebista no Palácio do Planalto.
Outros dois senadores considerados votos contra o impeachment já não são mais contabilizados como certos pelo Palácio da Alvorada. Trata-se de Otto Alencar (PSD-BA) e Roberto Muniz (PP-BA). Otto apoiou a eleição do governador da Bahia, o petista Rui Costa, e está de cabeça na campanha da deputada Alice Portugal (PCdoB) à Prefeitura de Salvador, junto com o PT. Otto se posicionou contra o impeachment na primeira votação no Senado, no dia 12 de maio, mas agora evita informar como se posicionará na votação desta semana.
Muniz, substituto do ex-petista Walter Pinheiro – que optou pela secretaria de Educação do governo da Bahia –, também era considerado voto contra o impeachment. Mas nesta semana tem dito que não vai antecipar sua posição e já não é mais contabilizado como voto a favor de que Dilma conclua seu mandato. Assim como Otto, Muniz e o seu partido também são aliados do governador baiano Rui Costa. Mas nem isso garante que os parlamentares se sacrifiquem e votem contra o afastamento definitivo.
Lealdade comunista
Uma manobra feita pela direção nacional do PT para escolher candidatos próprios às prefeituras do interior do Maranhão também criou problemas com o PCdoB. Aliado histórico do PT, os comunistas consideram uma traição política dos petistas ao governador maranhense Flávio Dino – que trabalhou duro contra a abertura do processo na Câmara, organizou manifestações em São Luiz e no interior, em defesa da manutenção do mandato da presidente, e agora não tem o apoio dos petistas para os candidatos do PCdoB em cinco municípios, entre eles cidades estratégicas como Codó e Imperatriz.
O PCdoB engoliu a inabilidade do PT no único estado governado pela legenda porque os petistas apoiam nomes comunistas importantes para as eleições municipais no Rio de Janeiro, com Jandira Feghalli, e em Salvador, com Alice Portugal. A direção do PCdoB conseguiu que os petistas retirassem as candidaturas em algumas cidades maranhenses para não atrapalhar o desempenho de Flávio Dino. Com isso, evitou que a senadora Vanessa Graziotin ficasse em dúvida na votação final do impeachment.
A opção do PT por candidatos do PMDB em municípios importantes do Maranhão foi para tentar reverter os votos de senadores como Roberto Rocha, do PDT, e de representantes do PMDB como Edison Lobão, ex-ministro de Mines e Energia de Dilma, e João Alberto, fiel aliado de Renan Calheiros. Ambos também já não são mais considerados pelo PT como votos contra o impeachment.
Fonte: Congresso em Foco