"Cheque em branco"

Prefeitura conta com Câmara para realizar leilão de áreas verdes

Enquanto vereadores chancelam, Justiça impede desafetação de terrenos propostos pelo Executivo

Prefeitura conta com Câmara para realizar leilão de áreas verdes

O Tribunal Regional Federal da 1ª Região proibiu, nesta quinta-feira (31), a Prefeitura Municipal de oferecer um terreno de área verde. O espaço, de mais de 3 mil metros quadrados, está situado entre o Parque da Cidade e o Hospital Teresa de Lisieux

Em 11 de Março, a construtora Incorpora Brasil chegou a arrematar a área, por R$5,85 milhões, mas a Justiça impediu que a transferência se realizasse. Por outro lado, o projeto mais uma vez contou com a chancela da Câmara de Salvador

Essa história se repete, já que nos últimos dez anos o Legislativo aprovou quatro matérias neste sentido: em 2014, 2017, 2021 e 2024. Em entrevista ao PSNotícias, o vereador Augusto Vasconcelos (PCdoB) afirmou que a Prefeitura pede autorização para desafetar áreas verdes da cidade. Apesar disso, não oferecem explicações e, mesmo assim, os vereadores apoiam o projeto.

“A Prefeitura não apresenta estudos de impacto ambiental, de vizinhança e no trânsito, dessas desafetações. De modo que a Prefeitura pede um cheque em branco para leiloar as áreas verdes. A desafetação de áreas verdes proposta tem trazido uma série de malefícios para Salvador. Dentre elas, aumenta a temperatura na cidade, áreas sensíveis sendo privatizadas…em detrimento do bem-estar da população. O que gera apenas o enriquecimento de empresas que são beneficiadas pela especulação imobiliária”, alegou o comunista.

Processo transparente

Por outro lado, o professor de Direito Ambiental, Diogo Guanabara, explica que o Poder Executivo não precisa, necessariamente, mostrar qualquer estudo antes de desafetar uma área pública. Por outro lado, como informou ao PSNotícias, é uma forma de deixar o processo mais transparente.  

“Precisamos separar o que é a mera desafetação, das construções imobiliárias que surgem ali. O fato do Poder Público apenas desafetar e deixar a área, por si só, não é capaz de gerar impacto ambiental. O dano ambiental vai existir quando o particular, de posse dessa área, explora indevidamente o espaço”, afirmou o professor.

Fiscalização

Diante dos sucessivos pedidos do Poder Executivo, Guanabara comenta que, uma vez destinado o terreno para o setor privado, o Judiciário precisa exigir o cumprimento do processo ambiental.

“A desafetação não é o problema. Apesar disso, uma vez a Justiça precisa atuar para garantir os processos ambientais, tais como a autorização ambiental corretamente dada e as licenças, por exemplo. Apesar da desafetação não ser um problema, e sim um direito, me chama atenção a potencialidade de supressão de espaços verdes na cidade”, acrescentou.

Já Vasconcelos, alega que, frente a falta de força do Legislativo no debate, a oposição precisa fazer a pressão popular prevalecer. “Hoje a prefeitura tem uma folga muito grande dentro da Câmara Municipal, e na próxima legislatura também tende a ser assim. No entanto, a maior parte da sociedade tem se posicionado contra esses leilões e precisamos estimular essa participação. Inclusive, durante a elaboração do próximo PDDU, que vai definir os destinos de Salvador nos próximos 8 anos”, concluiu o vereador.

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