A tradicional polarização, que sempre caracterizou as disputas políticas baianas, será novamente a tônica da eleição de prefeito de Salvador.
O prefeito ACM Neto (DEM), herdeiro político do falecido ex-governador Antonio Carlos Magalhães, disputa a reeleição como favorito contra, pelo menos, cinco pré-candidatos declarados, dos quais quatro são ligados politicamente ao governador Rui Costa (PT) e um independente, o sociólogo Fábio Nogueira, do PSOL.
Contudo, a dez dias do início do prazo para as convenções partidárias que escolherão os candidatos, tanto Neto como seus adversários enfrentam indefinições.
De um lado o prefeito dispõe de meia dúzia de nomes para compor sua chapa como vice. A pressão maior é do PMDB, vitaminado com a troca no Palácio do Planalto que colocou na cadeira presidencial o peemedebista Michel Temer.
Seu ministro Geddel Vieira Lima, presidente do PMDB-BA, reivindica a vice para o deputado estadual Bruno Reis. O cargo é estratégico, pois Neto planeja disputar o governo baiano em 2018. Se obtiver a reeleição de prefeito, governará apenas os dois primeiros anos. Nos dois restantes a cidade ficará com o PMDB.
Negociações
No campo adversário, o PT, sem nome natural para lançar à prefeitura e sofrendo o maior desgaste da sua história, abriu mão da cabeça da chapa para ficar com a vice e apoiar um nome de um dos seus velhos aliados, o PCdoB e o PSB.
Ocorre que, como parte dos caciques petistas não aceitou o nome da deputada Alice Portugal (PCdoB) para liderar a chapa – o presidente do partido Daniel Almeida confirmou que o governador sugeriu que a candidata fosse a secretária estadual e ex-vereadora Olívia Santana -, as três siglas empreendem uma maratona de intermináveis reuniões para escolher um nome.
Foi aí que a senadora Lídice da Mata (PSB) entrou, meio resistente, no jogo pois o PT aponta para seu nome como em melhores condições de representar o "projeto" e o "legado" do PT.
Já o deputado Isidório corre por fora com apoio de Rui. Integra a coordenação de campanha do pedetista o assessor especial do governador, Cezar Lisboa.
A ideia é que Isidório tire votos de Neto nas camadas mais populares. Quanto a Claudio Silva, a pré-candidatura busca marcar a presença do PP do vice-governador João Leão na campanha.
Ex-superintendente da Sucom de Salvador, teve cinco contas aprovadas com ressalvas pelo Tribunal de Contas dos Municípios (TCM). Essas ressalvas lhe renderam cerca de R$ 90 mil de multas e ressarcimentos. Se quitar o valor, poderá limpar a ficha.
Sem quadros
Mestre em História pela Universidade Federal da Bahia, Doutor em História pela Universidade Federal de Pernambuco e observador da cena política baiana, o professor Carlos Zacarias de Sena Júnior acredita que a eleição desse ano em Salvador vai ter "mais do mesmo".
Entende que a candidatura de ACM Neto larga na frente, "porque os termos de comparação com os desastrosos anos de João Henrique lhe são amplamente favoráveis.
Neto passa por ser um bom gestor. Não obstante tenha simplesmente maquiado a cidade e cuidado daquilo que é visível aos olhos, não alterou as formas de segregação historicamente existentes e ainda tratou de aprofundá-las com o novo PDDU".
Sustenta que a oposição vinculada ao PT, ao PCdoB e ao PSB carece de quadros para disputar com Neto e "infelizmente não temos em Salvador uma alternativa viável e renovada, como é a candidatura de (Marcelo) Freixo no Rio".
(A Tarde) (AF)