Nos mais de dois anos em que ficou preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, o ex-ministro Antonio Palocci voltou a exercer o ofício que não colocava em prática desde os tempos da faculdade, a medicina.
Quando algum preso se sentina mal no claustrofóbico conjunto de três celas que abrigam os envolvidos na Lava-Jato , o ministro era chamado pelos agentes para socorrer os companheiros.
Calmo, Palocci conversava em tom pausado com o “paciente” e vez ou outra lhe dava um remédio. Um dia, foi questionado por um policial qual era o santo medicamento que tinha resultado garantido. Direto, como de costume, respondeu: “ É Rivotril ”.
Leitor voraz, ele também guardava entre as obras um livro de medicina que costumava consultar em momentos de emergência. A partir desta quinta-feira, porém, a Lava-Jato de Curitiba perderá seu médico.
Desde setembro de 2016, quando foi preso, até hoje, o ex-ministro nunca foi visto chorando ou fora de controle. Descrito como “inteligente e centrado” por ex-colegas de cela, Palocci transformou o hobby de cuidar de plantas em sua terapia nos tempos em que passou atrás das grades.
Com autorização da Justiça para receber sementes e vasos, cultivou nos últimos meses um pequeno jardim na área de banho de sol. Os grãos eram levados pela mulher dele, Margareth, que o visitava religiosamente todas as quartas-feiras, sempre com livros a tiracolo para entregar ao marido. No ano passado, num dia em que o ex-ministro plantava um pé de eucalipto, ele se tornou alvo de brincadeira dos demais detentos.
O Globo /// Figueiredo