A empresária Mônica Moura, mulher do marqueteiro João Santana, disse em um de seus depoimentos de delação premiada que ela e o marido usavam um email com nomes fictícios para conversar com a ex-presidente Dilma Rousseff.
Numa das mensagens, a ex-presidente teria informado ao casal que as investigações da Lava-Jato estava avançando na direção deles.
Santana coordenou o marketing das duas campanhas eleitorais da ex-presidente. O marqueteiro e a mulher são acusados de receber dinheiro de caixa dois da Odebrecht como pagamento por parte dos serviços prestados à campanha da ex-presidente em 2014.
As informações sobre o conteúdo da delação de Mônica foram divulgadas pela Globonews e confirmadas pelo GLOBO com uma fonte que conhece o caso de perto.
Segundo a empresária, ela, Santana e Dilma usavam um email com senha comum aos três para se comunicar. Para evitar vazamento ou rastreamento, as mensagens eram escritas, mas não enviadas. Bastava a uma das partes acessar a conta, ler e depois apagar o recado. As mensagens seriam cifradas.
Numa das mensagens, Dilma teria escrito que "seu amigo estava doente, em estado quase terminal, e que a mulher que sempre cuidou dele também estava doente".
O casal teria interpretado a mensagem como um aviso de que a Lava-Jato estava se aproximando deles. O uso de emails com senha comum, sem o envio de mensagens, não constitui crime, segundo um dos investigadores da Lava-Jato.
Caberá, então, ao Ministério Público Federal analisar o conteúdo das mensagens, caso sejam recuperadas, para decidir se é o caso de abrir ou não investigação contra a ex-presidente.
As delações de Mônica Moura e João Santana foram homologadas pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF). Procurada pelo GLOBO por intermédio de sua assessoria de imprensa, a ex-presidente respondeu com uma nota já divulgada depois dos depoimentos do casal ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
"Tudo indica que o casal, por força da sua prisão por um longo período, tenha sido induzido a delatar fatos inexistentes, com o objetivo de ganhar sua liberdade e de atenuar as penas impostas por uma eventual condenação futura", diz o texto.
No texto, Dilma nega que tenha negociado contribuições para campanhas eleitorais. A ex-presidente também rebateu a confissão do casal, que diz ter recebido parte dos pagamentos prestados a campanha de 2014 a partir do caixa dois da Odebrecht. A ex-presidente argumenta que o casal recebeu R$ 70 milhões e os pagamentos foram devidamente declarados à Justiça Eleitoral.
"Desse modo, não havia e nunca houve qualquer razão ou motivo para que o casal recebesse nenhum centavo a mais pelos serviços prestados à campanha da reeleição, especialmente nos montantes pretendidos por Mônica Moura e muito menos por meio de pagamentos não contabilizados", afirma a nota de Dilma
( O GLOBO)(AF)