Eleições

Muito dinheiro e pouco voto: candidatas do Patriota na Bahia são suspeitas de serem 'laranjas'

Ausência de perfil em redes sociais também reforçam suspeitas de candidaturas utilizadas para desvio de 'caixa 2' nas campanhas

Reprodução/TSE
Reprodução/TSE

O financiamento das campanhas eleitorais é um dilema complexo na política brasileira. Ainda existe muita discussão acerca da melhor forma de garantir recursos para os candidatos, mas ainda não há uma fórmula ideal.

Com o Fundo Eleitoral e a cota feminina que obriga os partidos a direcionarem 30% destes recursos para as mulheres candidatas, nos últimos anos cresceu o número de candidaturas 'laranjas' – utilizadas para fazer 'caixa 2' com as verbas para campanha.

São candidatas que recebem a verba considerável, mas que conquistam poucos votos. Apesar de não poder comprovar ser uma candidatura "laranja", a relação custo por voto é um indicativo que reforça as suspeitas.

No caso do partido Patriota, na Bahia, muitas candidaturas femininas decepcionaram nas urnas. A principal delas foi a de Mó de Jesus, manicure natural de Feira de Santana, que disputou a sua primeira eleição este ano.

A sigla apostou alto e repassou R$ 330 mil para a sua campanha. Deste montante, R$ 135 mil ela doou entre outras 15 candidaturas femininas, tanto à Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), quanto à Câmara Federal.

Com os quase R$ 200 mil restantes, ela confeccionou santinhos e demais materiais gráficos para alavancar a sua candidatura e se fazer conhecida. O resultado não veio como esperado e Maria do Carmo teve somente 48 votos. Fazendo uma conta simples, tirando o valor doado a outras postulantes, Mó de Jesus desembolsou cerca de R$ 4,1 mil por voto conquistado.

Ela também não tem nenhum perfil oficial de candidatura nas redes sociais, que é apontado por especialistas como mais um dos sinais de que uma candidata é laranja. 

O que também chama atenção é que outras candidatas, que só tiveram verba porque receberam a doação de Mó de Jesus, apresentaram um resultado muito mais expressivo nas urnas. É o caso e Paty Cruz, candidata a deputada estadual, que recebeu 417 votos e contou com somente R$ 15 mil para campanha – R$ 5 mil doados por Mó e outros R$ 10 mil repassados pelo Patriota. 

Um custo médio de R$ 36 por voto, mais de 10 vezes menor que o de Mó de Jesus.

Sissi Santos também fez milagre com a quantia de R$ de 10 mil recebida e contou com 472 votos na disputa para deputada federal. 

Outras candidatas que receberam doações de Mó tiveram o destino parecido com o da manicure e não ultrapassaram a marca de 100 votos, também levantando suspeitas de serem usadas pelo partido como laranjas.

Meire da Enfermagem, por exemplo, decepcionou ainda mais, com somente 21 votos recebidos. Ela teve R$ 20 mil para fazer a campanha e gastou tudo na contratação de serviços de pessoas físicas. De acordo com dados informados ao TSE, Meire pagou um motorista e seis pessoas para coordenar a sua campanha, além de uma mulher que ficou responsável por distribuir materiais publicitários da campanha. 

Vivi Conceição (53) e Tia Lú (64), postulantes à Câmara Federal, também se viraram com R$ 10 mil doados por Mó.

Todas elas têm em comum a ausência de divulgação nas redes sociais, que pode explicar o resultado ruim nas urnas. De todas as candidatas citadas, somente Sissi tem uma página no Instagram onde é mencionada a sua candidatura.

Nenhuma delas vinculou o seu perfil à página de registro da candidatura no TSE. A reportagem procurou ainda com os nomes, tanto no Instagram quanto Facebook, mas não localizou os perfis das outras candidatas.