Política

Ministro do STF vai homologar delação de Delcídio

À tarde, senador não confirmou teor de reportagem, mas evitou esclarecer se fechou acordo com Lava-Jato

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O ministro Teori Zavascki, relator dos processos da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), vai homologar a delação premiada do senador Delcídio Amaral (PT-MS), ex-líder do governo no Senado. A informação foi divulgada ontem à noite pela Globonews e confirmada ao GLOBO por outro ministro do Supremo.

À tarde, Delcídio divulgou ontem nota em que não confirmou o teor da reportagem publicada pela revista “IstoÉ”. A nota, porém, evitou esclarecer se ele assinou o termo de delação premiada com o Ministério Público Federal. O texto assinado por Delcídio e seu advogado Antonio Figueiredo Basto diz desconhecer a origem dos documentos divulgados pela revista, com trechos dos assuntos que o senador prometeu narrar em depoimentos aos procuradores.

“À partida, nem o senador Delcídio, nem a sua defesa confirmam o conteúdo da matéria”, diz a nota. “Não conhecemos a origem, tampouco reconhecemos a autenticidade dos documentos que vão acostados ao texto”, acrescenta. Segundo a defesa, em nenhum momento a revista teria procurado o senador para verificar a “fidedignidade dos fatos relatados”. “Por fim, o senador Delcídio Amaral reitera o seu respeito e o seu comprometimento com o Senado da República”, conclui a nota.

Em São Paulo desde o início da semana, Delcídio recebeu com irritação a notícia sobre o vazamento da delação premiada. Seus advogados também reagiram com indignação, segundo pessoas próximas ao senador ouvidas pelo GLOBO.

O senador e seus defensores temem que a divulgação de trechos da delação pela “IstoÉ” ameace a homologação do acordo com a Operação Lava-Jato. Uma das exigências do Ministério Público para aceitar a delação é o sigilo do acordo. Juristas, porém, dizem que, mesmo que a delação não seja homologada, as informações prestadas por Delcídio podem servir de base para outras investigações da Operação Lava-Jato.

Diante disso, a nota enviada à tarde à imprensa foi resumida por pessoas do círculo do senador como estratégia de “redução de dano” para a defesa. Propositalmente, ela não confirma nem nega a existência de delação.

— Ele não pode falar nada sobre a delação, nem mesmo se ela existe, sob o risco de perder a chance de ela ser homologada — disse um aliado do senador.

Há rumores de que Delcídio esteja hospedado num hotel em São Paulo acompanhado da mulher, Maika. Ele também tem um irmão, Ramon Gomez, que mora na capital paulista.

Após o vazamento da delação, o clima no Senado era de irritação e vontade de levar a cassação adiante. Senadores do PT e outros partidos dizem que o ex-líder do governo está “morto e liquidado”.

Os parlamentares se incomodaram especialmente com o trecho da reportagem que afirma que o acordo de delação só não teria sido homologado antes por conta de uma cláusula de confidencialidade de seis meses, exigida pelo senador, mas negada por Teori Zavascki. A intenção no Senado agora é acelerar o processo de Delcídio no Conselho de Ética, que, segundo um senador petista, estava “devagar, quase parando”.

— Ele está morto e liquidado. Se realmente tem essa suposta delação, ele é réu confesso e tem que ser cassado. E o mais importante: tentou enganar os senadores, claramente quis ludibriar os senadores. O mandato dele já era — disse esse parlamentar.

Os senadores disseram que o descontentamento em relação a Delcídio ultrapassou as barreiras do PT. Parlamentares do PMDB e do PSDB, entre outros, teriam demonstrado disposição para acelerar a cassação do ex-líder do governo. Até agora, eles estavam travando o andamento do processo, para preservar o petista.

— Agora, esse processo vai andar, porque, sejamos francos, ele estava devagar, quase parando, num joguinho lento pela relação que ele tinha com o PMDB, o PSDB. Mas agora acelera — disse esse senador.

Dirigentes do PT afirmaram que o vazamento de trechos da delação também vai acelerar o processo de expulsão do parlamentar do partido. Delcídio está com a filiação suspensa desde dezembro do ano passado, quando foi preso, acusado de obstrução à Justiça. Há uma semana, em reunião do Diretório Nacional, o PT decidiu prorrogar a suspensão do parlamentar até o próximo encontro da Executiva, que acontecerá em dois ou três meses. Ele ainda terá que apresentar sua defesa ao partido.

Segundo petistas ouvidos pelo GLOBO, se Delcídio ainda tinha o apoio de alguns parlamentares e dirigentes, a expulsão agora será inevitável e referendada por unanimidade. Os dirigentes não deverão antecipar, porém, a data da reunião. Concordam que, caso se mude o rito, isso abrirá margem para questionamentos do senador. Os petistas também acreditam que as notícias de ontem deverão complicar a situação de Delcídio no Conselho de Ética do Senado, o que pode acabar com a cassação do mandato do ex-líder do governo.

Foto: Reprodução/ O Globo