O PT só tem um plano eleitoral para 2018. Pelo menos publicamente, nenhum dos caciques da legenda no plano federal aceita discutir uma alternativa à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para retornar ao Palácio do Planalto. Lula está preso há 30 dias na Superintendência da Polícia Federal do Paraná e, até o momento, não possui perspectiva de liberdade a curto prazo. Tal erro pode provocar mais do que a erosão do projeto político almejado pelo petismo.
Diante de um cenário ainda bem incipiente, a persistência na tese de que Lula será candidato em 2018 pode enterrar as chances da esquerda participar efetivamente do pleito de outubro, com os candidatos declarados do segmento fora do debate do segundo turno – diante do atual contexto, dificilmente o Brasil não passará por uma eleição de dois turnos. Como nenhuma projeção jurídica aponta que Lula estará com o nome nas urnas, o PT precisa rediscutir a estratégia adotada para tocar o barco. Seja com uma candidatura própria, cujos nomes de Fernando Haddad e Jaques Wagner são citados, porém negados com veemência, seja com o apoio a candidaturas de esquerda, a exemplo de Manuela D’Ávila (PCdoB) e Guilherme Boulos (PSOL).
Ambos são os candidatos que mais se parecem com a ideia programática que o PT ensaiou voltar a defender depois que Dilma Rousseff foi apeada da Presidência da República. Além deles, sobram algumas opções de centro-esquerda, que flertam com o liberalismo econômico apesar de defenderem políticas públicas mais populares, como Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede). Se o PSB mantiver a lógica das últimas eleições, até mesmo o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, poderia ficar nesse espectro.
E, ainda que diversas peças estejam disponíveis no tabuleiro político nacional, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, consegue acumular trapalhadas públicas ao falar dessa situação de Lula, o que deve afastar alianças em primeiro turno com candidaturas competitivas. O alvo recorrente tem sido o ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, que mantém bons índices nas pesquisas e poderia herdar votos de Lula sem ser taxado de esquerda. Segundo Gleisi Hoffmann, “nem com reza brava” o PT deveria discutir uma composição com o pedetista, apenas para citar um exemplo.
Enquanto o PT, maior partido da esquerda, insiste na tese da candidatura de Lula, sem sequer conversar com os aliados, a extrema-direita e os candidatos de centro-direita conseguem consolidar o discurso antipetista e anti-Lula. O marco de Lula preso deveria ser também um momento para amadurecimento de aliados. Trinta dias depois, o ex-presidente segue detido e a democracia segue mais ameaçada do que nunca. Não pela prisão em si, mas pela falta de maturidade daqueles que deveriam discutir o futuro do Brasil com menos paixão e mais razão.
Bahia Noticias // AO