O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) partirá rumo a Bruxelas, na Bélgica, neste domingo (16), para participar da terceira cúpula entre a União Europeia (UE) e a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). O encontro reunirá líderes dessas regiões.
De acordo com a UE, a cúpula representa uma oportunidade para fortalecer a parceria entre os países, discutir esforços conjuntos em prol de transições ecológicas e digitais justas, além de demonstrar um compromisso compartilhado na defesa da ordem internacional.
Para Lula, entretanto, o evento também representa uma nova tentativa de articular um acordo comercial em âmbito regional entre a UE e o Mercosul (Mercado Comum do Sul), que engloba principalmente Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
Esse último, porém, ameaça fazer acordos bilaterais com a China, uma vez que, 30 anos depois de sua fundação, o Mercosul não selou nenhum acordo relevante com outros países ou grandes blocos de nações.
"Nossa grande ambição em relação à América Latina é assinar o acordo com o Mercosul até o final deste ano", disse na tarde da quinta (13) o embaixador da União Europeia no Brasil, Ignacio Ybáñez. "Não esperamos que haverá negociações, nem é este o foro, mas sim buscar o compromisso de que os dois lados finalizem esse acordo", afirmou, em entrevista a jornalistas.
Em março, a UE apresentou um documento que esperava ser o final, mas o Brasil está trabalhando em uma nova versão. "Já sabemos que alguns pontos não foram do agrado dos países do Mercosul e esperamos uma contraproposta."
Na sexta-feira (14), o governo Lula enviou aos demais países do Mercosul a contraproposta do grupo ao acordo. O texto segue sigiloso, mas já circula entre Argentina, Uruguai e Paraguai. O chefe do Executivo aprovou-o em um despacho com o chanceler Mauro Vieira.
Negociado oficialmente desde 1999, o acordo geral foi concluído em 2019. As negociações finais vêm esbarrando em divergências na área ambiental. Esse é um ponto central na política e na economia da UE atualmente, que vem, por exemplo, aprovando leis para impedir que países do bloco comprem produtos oriundos de desmatamento na Amazônia e outras florestas tropicais.
Falando em Espanha, vale dizer que o país assumiu no início deste mês a cadeira rotativa de seis meses como a nação que preside o Conselho Europeu. O premiê espanhol, Pedro Sánchez, citou esse fato quando recebeu Lula em Madri em abril, acrescentando que iria se esforçar para fazer avançar o acordo com o Mercosul.
Segundo o Conselho Europeu, "os líderes discutirão como aproveitar o enorme potencial e as oportunidades oferecidas pelas transições verde e digital gêmeas para aumentar a prosperidade de nossos cidadãos. Os princípios de uma transformação justa e social formarão a base de nosso engajamento e garantirão que ninguém seja deixado para trás".
Além dos esforços para combater as mudanças climáticas, outros tópicos a serem abordados na cúpula serão paz global e estabilidade, comércio e investimento, recuperação econômica, pesquisa e inovação e ainda justiça e segurança para os cidadãos.
O evento será copresidido pelo presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, ao lado do primeiro-ministro das ilhas caribenhas São Vicente e Granadinas, Ralph Gonsalves. As cúpulas UE-Celac anteriores aconteceram em 2013 e em 2015.
No entanto, desde então, Sánchez tem seu cargo ameaçado e pode não sobreviver até o fim do ano. Um mês após o encontro com Lula, ele antecipou as eleições gerais na Espanha após seu partido, o Partido Socialista Operário Espanhol, ter perdido as eleições regionais para o rival Partido Popular.
Esse escrutínio vai acontecer apenas alguns dias após o encontro em Bruxelas, no dia 23 de julho. E, nas pesquisas, o Partido Popular aparece na frente, abrindo um provável caminho para que Alberto Feijóo assuma como premiê nas próximas semanas.