O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sinalizou a pessoas próximas que indicará Marina Silva (Rede) para chefiar o Ministério do Meio Ambiente após ver frustrada a tentativa de fazer uma dobradinha entre a aliada e a senadora Simone Tebet (MDB-MS).
Lula conversou com ambas nesta sexta-feira (23). A costura era para que Marina aceitasse o cargo de autoridade climática do governo e Tebet, o ministério.
A ex-senadora da Rede, no entanto, se antecipou à abordagem e defendeu que a autoridade climática ficasse sob a guarda da pasta do Meio Ambiente. Mais que isso, disse que ela deveria ser ocupada por um perfil técnico, não político, deixando Lula sem brecha para convidá-la ao posto no formato que o petista desejava.
Na ocasião, Marina ainda deixou claro que gostaria de ocupar o ministério. Tebet, por sua vez, também verbalizou a Lula nesta sexta que só assumiria a chefia da pasta ambiental caso a integrante da Rede aceitasse a autoridade climática.
O presidente eleito, então, ficou sem saída e, resignado, indicou a aliados a escolha por Marina no Ministério do Meio Ambiente.
Com a decisão, o futuro de Tebet no governo de Lula é incerto. Na primeira conversa que teve com a emedebista, pela manhã, o petista não chegou a convidá-la para um ministério, mas colocou sobre a mesa algumas soluções que poderiam contemplá-la. Entre elas, citou os ministérios do Meio Ambiente, Turismo e até mesmo Cidades —pasta que já foi reservada ao MDB, mas está prometida a uma indicação da bancada da Câmara.
Depois, Lula conversou com Marina. Em seguida, teve nova reunião com Tebet, que acabou sem definições. O presidente, porém, afirmou à senadora emedebista querer que ela faça parte do primeiro escalão do governo.
Lula embarcou para São Paulo com Tebet a bordo. No avião, conversaram sobre generalidades.
Terceira colocada na corrida presidencial, com 4,2% dos votos, Tebet fez campanha para Lula durante o segundo turno. O engajamento da emedebista foi elogiado por petistas, para os quais ela ajudou a atrair votos de centro.
Aliados avaliam que contemplá-la no ministério é uma forma de dar a cara de frente ampla que Lula diz querer na sua gestão.
Contemplar Marina, que já foi ministra do Meio Ambiente de Lula, rompeu com o petista e retomou os laços na eleição presidencial deste ano, é também um meio de acomodar aliados que fujam do espectro político do PT.
Desde cedo nesta sexta, no entanto, quando especulou-se que Tebet poderia assumir a pasta, houve forte resistência de ambientalistas e servidores do órgão.
Aliados da ex-ministra, por sua vez, reafirmavam que ela não aceitaria a assumir o órgão na construção proposta pelo PT. Até o meio da tarde, por sua vez, membros de seu partido não haviam sido informados de sua decisão.
“Esclareço que no encontro não tratamos sobre convite para assumir a autoridade climática, que defendo ser um cargo técnico vinculado ao Ministério do Meio Ambiente”, postou Marina no início da noite em suas redes sociais.
Catia Seabra, João Gabriel e Julia Chaib/Folhapress