Política

Joice diz que demissão de Bebianno é 'ferida' na relação do governo com Congresso

'Tivemos ali um ferimento, é uma ferida na relação Congresso/governo porque os líderes começaram a me dizer o seguinte: poxa vida, então a gente vai ser tratado assim também?'

NULL
NULL

[Joice diz que demissão de Bebianno é 'ferida' na relação do governo com Congresso]

Uma das responsáveis por tentar negociar a permanência de Gustavo Bebianno no governo, a deputada federal Joice Hasselman (PSL-SP) disse que o episódio de demissão do ex-ministro é uma "ferida" na relação entre os poderes Executivo e Legislativo.

"Tivemos ali um ferimento, é uma ferida na relação Congresso/governo porque os líderes começaram a me dizer o seguinte: poxa vida, então a gente vai ser tratado assim também? Será que a gente vai ser tratado, vai ser fritado em praça pública?", disse a deputada ao chegar para conversar com Bebianno, no hotel onde ele mora em Brasília. Apesar de reconhecer que o episódio vai afetar a relação entre os poderes, ela disse que aliados do presidente Jair Bolsonaro estão trabalhando para "azeitar a relação" e "estancar a ferida".

O episódio de saída do ministro, marcado por discussões públicas, pode afetar a tramitação da reforma da Previdência no Congresso, medida crucial para o governo e que será apresentada na quarta-feira (20). Bebianno caiu após uma crise instalada no Palácio do Planalto com a revelação pela Folha de S.Paulo da existência de um esquema de candidaturas laranjas do PSL para desviar verba pública eleitoral. O partido foi presidido por ele durante as eleições de 2018, em campanha de Bolsonaro marcada por um discurso de ética e de combate à corrupção.

A demissão do ministro, que já vinha se desenhando desde a última quarta (13), quando Bolsonaro o chamou publicamente de "mentiroso", foi confirmada na noite desta segunda-feira (18) pelo porta-voz da Presidência. Bebianno, que foi o homem forte do presidente durante o período eleitoral, passou o dia fechado em seu quarto. 

Joice criticou a forma como a demissão do ministro foi conduzida pelo governo. Ela disse que o ato de exoneração em si não é o problema e que essa é uma decisão do presidente. Contudo, disse que a briga pública foi uma "fatura exposta" e comparou o desentendimento a um divórcio.

"A relação ali ficou aquela coisa do casamento que está acabando, uma relação meio que sustentável. Foi uma paixão louca lá trás, os dois só andavam juntos, vocês acompanharam na campanha, eles estavam juntos para tudo, do café da manhã ao jantar, e de repente a relação desgastou e ai vem o divórcio. O problema é que o divórcio veio com o escândalo. Não precisa chamar os vizinhos para discutir o divórcio", ponderou.

A deputada comparou o caso de Bebianno ao do ministro Marcelo Álvaro Antônio, do Turismo, já que ambos foram envolvidos no escândalo de candidaturas de laranjas do PSL, caso revelado pela Folha de S.Paulo. No caso do titular do Turismo, o governo se manteve em silêncio sobre as apurações, e ele permanece no cargo.

"Acho que foi uma questão mesmo pessoal. O presidente e o Marcelo conseguiram ter uma conversa e conseguiram se acertar. No caso do ministro Bebianno e o presidente, essa conversa não aconteceu, não pelo menos para que a paz viesse. Pelo que eu sei, a última conversa foi bem tensa", afirmou.

Joice disse ainda que o vídeo divulgado por Bolsonaro na noite desta segunda, no qual diz acreditar na seriedade do trabalho do ex-ministro da Secretaria-Geral, é um começo para a solução do caso. "Acho que é um começo. Acho que o presidente demonstra hombridade neste momento, maturidade. Acho que isso já poderia ter sido feito já na sexta-feira passada, sem ficar este final de semana toda essa sangria. Mas acho que é um primeiro passo, sim. É o presidente levantando uma bandeira de paz, dizendo: 'Olha, muito obrigado pelo tempo em que você esteve comigo, mas nosso tempo acabou'", disse.

A deputada defendeu a apuração rigorosa das suspeitas de candidaturas de laranjas. "Se houve problema, que os problemas sejam investigados. Se nós chegarmos à conclusão de que houve crime, que haja apuração. Ponto. Agora, isso eu defendo para mim, para minha mãe, para o meu pai, para todo mundo. Isso é uma questão de ética."

O episódio de demissão de Bebianno reascendeu nos bastidores do governo e da base aliada no Congresso o papel que os três filhos políticos do presidente terão nesta gestão. O vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) foi o primeiro a criticar publicamente o ministro na semana passada, dizendo que ele havia mentido sobre ter conversado com seu pai.

Ele chegou a publicar um áudio em que o presidente diz a Bebianno que não podia falar. A declaração dele incomodou ministros e parlamentares que viram no gesto uma interferência indevida de um familiar em assuntos de governo. "O que eu tenho escutado é mesmo de dentro do Palácio alguns ministros dizendo: 'Olha está na hora de cada um ficar no seu quadrado'. Deputado faz papel de deputado, vereador faz papel de vereador, presidente faz papel de presidente, e vida que segue. Acho que é natural", disse.

Joice disse que o episódio ajudou Bolsonaro a entender que é preciso manter a separação dos poderes, "inclusive, do poder domiciliar". A deputada, que é jornalista, evitou criticar a forma de comunicação do governo, mas defendeu que ela seja feita de forma "mais profissional".

"Acho que o problema não é a comunicação ser feito de forma A, B, ou C, mas quem faz a comunicação. Talvez fazer de forma mais profissional, e poder um profissional de comunicação para escrever, tuitar junto com o presidente seja o melhor caminho. Aqui não cabe nenhum demérito ou desrespeito ao filho do presidente [Carlos]. Só acho que cada macaco no seu galho", disse.

Carlos, o mais próximo ao pai entre os cinco filhos, é o responsável por elaborar a estratégia do presidente nas redes sociais desde os tempos em que ele era deputado. É ele quem controla as publicações ou orienta seus aliados a fazê-lo.

Folhapress // AO