Nesta quinta-feira (17), o ex-corregedor da Câmara dos Deputados Carlos Manato (SD-ES), uma das testemunhas no processo contra o deputado Jean Wyllys (Psol-RJ) no Conselho de Ética, disse que Jean feriu o decoro parlamentar ao cuspir no colega Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e defendeu a suspensão de seu mandato por até seis meses.
Manato, que foi arrolado pelo relator do caso, o deputado Ricardo Izar (PP-SP), afirmou que, à época em que recebeu a representação contra Wyllys, a corregedoria estudou "a fundo" e chegou a um período de suspensão para o parlamentar. “O critério de 1 a 6 meses vai ficar para o Conselho. Se dependesse de nós, daríamos suspensão por um tempo. Achamos que tem que ter um afastamento temporário. Chegamos a um número, mas não vou falar qual seria este número para não induzir”, explicou.
De acordo com o ex-corregedor, Jean Wyllys cometeu "falta gravíssima", mas, para ele, a perda do mandato seria "muito grave" e advertência escrita, "muito simples". A representação está nas mãos do Conselho de Ética, que pode "monocraticamente decidir que a suspensão de mandato seria incoerente da nossa parte”.
Tom ponderado
José Carlos Araújo (PR-BA), presidente do colegiado, adotou um tom ponderado ao falar sobre o ocorrido. “No meu tempo, fosse qual fosse a gravidade do fato, pediam perda do mandato. Isso me incomodava. Tudo tem que ter uma gradação”, afirmou.
O episódio envolvendo Jean Wyllys e Bolsonaro ocorreu em 17 de abril deste ano, no Plenário da Câmara dos Deputados, durante a votação da admissibilidade do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Na ocasião, Bolsonaro votou favorável ao impedimento e dedicou o seu voto à memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, militar que comandou o Destacamento de Operações Internas (DOI-Codi) de São Paulo, durante parte da ditadura militar (1970 a 1974).
Ustra foi o primeiro militar a ser reconhecido, pela Justiça, como torturador durante a ditadura. A homenagem foi considerada ofensiva por Wyllys, que reagiu com o cuspe e disse ter sido alvo de outras agressões por Bolsonaro.
O deputado Glauber Braga (Psol-RJ) foi chamado pela defesa de Jean Wyllys e respondeu a algumas perguntas de integrantes do Conselho de Ética por menos de 30 minutos. Ele afirmou que as provocações feitas por Bolsonaro ao colega não se resumem aos fatos daquele dia. “É uma relação de provocação permanente por parte do deputado Jair Bolsonaro, uma estratégia permanente de confronto”, disse.
Braga reconheceu a tensão na relação entre os dois deputados e afirmou que Jean não planejou a reação. “A tese da premeditação não é verdadeira. O que aconteceu de fato foi uma reação. Ele [Wyllys] teria comentado comigo quando foi fazer o uso da palavra porque estávamos próximos. Na saída já não acompanhei de perto. Ele veio me falar depois que tinha cuspido em reação às agressões do deputado Jair Bolsonaro”, contou.
Outra testemunha arrolada pela defesa foi o deputado Afonso Florence (PT-BA), mas seu depoimento será remarcado porque o parlamentar não compareceu à audiência.
Reprodução: Metro1