Tudo indica que o deputado Ronaldo Fonseca (PROS-DF), relator, na Comissão de Constituição e Justiça, da ação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) que busca anular o relatório que pediu sua cassação no Conselho de Ética, vai mesmo acatar pelo menos três das 16 reclamações feitas pelo presidente afastado da Câmara. Bastaria uma para fazer a coisa voltar à estaca zero no Conselho caso o texto fosse aprovado. Mas deve ser rejeitado.
Fonseca apresenta seu parecer nesta terça. A sessão da CCJ está marcada para amanhã. É certo que a tropa de choque de Cunha vai pedir vista, e a votação ficará então para o dia 12. Se não houver nenhuma chicana nova, é claro.
Cunha alega que o relator do seu caso no Conselho não poderia ter sido o deputado Marcos Rogério (DEM-RO). Por quê?
O relator de uma denúncia no Conselho de Ética não pode pertencer ao mesmo partido ou bloco ao qual pertence o acusado. Muito bem! Quando foi indicado para a função, Rogério era do PDT. Mudou-se depois para o DEM, partido que integrou o bloco que elegeu Cunha presidente da Câmara.
A Comissão de Constituição e Justiça é formada por 66 membros. Cunha deve ser derrotado. O parecer de Fonseca deve ser rejeitado. E isso significa que o relatório que o acusa de quebra de decoro — com a consequente perda de mandato — vai mesmo a plenário.
E quando o texto será votado? A coisa ainda é incerta porque depende de quando será o recesso do Congresso — ainda que recesso branco. Mesmo que o Parlamento, oficialmente, funcione durante todo o mês de julho, deputados tendem a se ausentar nas duas últimas semanas do mês.
Waldyr Maranhão (PP-MA), presidente interino da Câmara, afirmou que pretende deixar a votação para agosto. Vamos ver. Tudo aquilo com que sonha Cunha é que o caso vá à votação com uma Câmara esvaziada. A razão é óbvia. São necessários 257 votos para cassá-lo.
Quanto menos deputados houver por lá, melhor.
Que coisa, não? Há uma boa possibilidade de o mês de agosto, que costuma ser considerado, vamos dizer, aziago para a política, de maus augúrios, seja aquele em que vamos nos livrar definitivamente de Dilma Rousseff e também de Eduardo Cunha.
É claro que os problemas do Brasil ou da Câmara estarão longe do fim. Mas se abrem perspectivas novas, é evidente. É certo que a interinidade de Temer deixa sempre um rastro de insegurança, ainda que ninguém acredite na volta da Afastada.
Quanto à Câmara, note-se: a eventual cassação de Cunha abre oficialmente uma vacância na Mesa, o que obriga a Casa a escolher um novo presidente. E a gente se livra também de Waldyr Maranhão.
Um agosto dos sonhos.
Reprodução/Veja-Blog Reinaldo Azevedo