Laurence Casagrande Lourenço era pouco conhecido até ser preso, em junho, pela Operação Pedra no Caminho. Desde então, ele e a Dersa, companhia que presidiu por sete anos, se tornaram pedras no sapato de Geraldo Alckmin (PSDB), pela imputação de fraude nas obras do Rodoanel.
Na primeira entrevista desde que foi solto por determinação do ministro Gilmar Mendes, do STF, Lourenço diz ser alvo de acusações infundadas e que as acusações contra si foram usadas politicamente para atingir Alckmin.
O sr. ficou 77 dias preso sob acusação de fraude e formação de quadrilha. Como responde a essas acusações?
Não há nos autos nem no inquérito nenhuma imputação de corrupção. Há imputação de outros crimes, como falsidade ideológica e fraude, mas não corrupção. Quanto a supostos outros ilícitos, houve uma falha muito grande de quem investigou em não me chamar, ou chamar a empresa. O que aconteceu foi o contrário: sempre que a Dersa, e depois eu tentei ingressar nas investigações, isso foi negado.
O MP alega que houve sobrepreço e fraude nos aditivos de contrato para os lotes do Trecho Norte do Rodoanel. E que isso foi feito em conluio entre as empreiteiras e a direção da Dersa.
Isso não é verdade. O que aconteceu foi o contrário. A busca da empresa e da diretoria no período em que eu a presidi foram no sentido de preservar o erário e o interesse público. Os aditivos de preços foram provisórios. Discordo que tenha havido qualquer benefício a construtoras.
O sr. consegue dizer sem medo que não houve corrupção na construção do Rodoanel? Em nenhum dos trechos?
Eu posso lhe dizer que na construção do Rodoanel Norte não houve qualquer atividade vinculada à corrupção por parte da diretoria da Dersa. Todos os atos que tomei enquanto presidi a companhia respeitaram integralmente aquilo que estava no contrato. Eu não posso responder por outros períodos da companhia.
Um dos diretores acusados no processo, Pedro da Silva, é acusado de enriquecimento ilícito e o MPF aponta indícios concretos desse enriquecimento. No entanto, ele foi mantido pelo senhor.
O Pedro já era o diretor de Engenharia quando eu cheguei na Dersa. Não cabe ao presidente da companhia remover diretores.
Outro ex-diretor da Dersa alvo de denúncias de corrupção é Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, que é do período anterior ao do senhor. Também atesta a correção dele?
Não conheço o Paulo Preto, entrei na companhia oito meses depois que ele havia saído.
Mas sua gestão investigou os atos atribuídos a ele? O que foi encontrado?
Todas as denúncias recebidas pela Dersa foram investigadas, até porque depois de 2011 estipulamos uma política de compliance bastante robusta.
E o que foi achado?
Por exemplo, no caso do reassentamento da Jacu-Pêssego, Rodoanel Sul e Marginal do Pinheiros, que inclusive hoje é objeto de uma ação judicial, a principal prova são os relatórios de auditoria da Dersa.
O sr. ficou preso, foi libertado pelo STF e agora será julgado. Qual acha que será o desfecho?
O que eu mais desejo com relação é um julgamento justo. Não tenho certeza se terei.
Uma das alegações para sua prisão foi a de que estaria havendo destruição de provas. Como o sr. responde a isso?
Isso é um absurdo. Eu tinha o hábito, e ainda tenho, até porque é uma recomendação de políticas estaduais e da própria Dersa, de se atentar a questões de sigilo da companhia. Vários funcionários da empresa trabalham com picotares de papel ao lado de suas mesas e cuidam de que documentos e papéis não sejam colocados de forma aberta e exponham os interesses da empresa. A companhia tem um sistema de digitalização dos documentos. Tudo é guardado.
Ainda na questão dos aditivos à obra do Rodoanel Norte, o gerente de Obras, Emílio Squarcina, se recusou a assiná-los e foi posto numa geladeira administrativa. Como o sr. explica isso?
O Emílio era um funcionário da Diretoria de Engenharia, e essa foi uma decisão tomada no âmbito da diretoria, assim como a sua contratação.
O ex-governador e candidato à Presidência Geraldo Alckmin fez defesas muito veementes da sua honestidade. Acha que seu caso é uma das razões para ele enfrentar dificuldades eleitorais?
Não posso dizer com clareza quais as motivações de quem investiga este caso, mas o que eu percebo é que uma das consequências é o uso político.
Consequência de que maneira?
A necessidade de o governador ter de fazer uma defesa minha em rede nacional, em entrevista ao Jornal Nacional, é uma demonstração do uso que se faz da situação.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. // AO