Prestes a completar cem dias de mandato, o presidente Jair Bolsonaro se rendeu à chamada "velha política" e se reúne, a partir desta quinta-feira, 4, com dirigentes de 11 partidos para convidá-los a integrar a base de sustentação do governo no Congresso.
Após desenhar uma aliança apenas com frentes parlamentares, Bolsonaro enfrentou uma crise política atrás da outra, que levou a derrotas do Planalto na Câmara, e foi aconselhado a aceitar a distribuição de cargos, na volta da viagem a Israel, para aprovar a reforma da Previdência, destaca o jornal O Estado de S. Paulo.
No vácuo da articulação política, o Centrão se reorganizou e mostra força. O bloco de partidos que deu as cartas do poder quando o então deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ), hoje preso, era presidente da Câmara é formado por siglas como DEM, PP, PR, PRB, PSD e Solidariedade. O grupo tem como aliado de primeira hora o MDB e, em alguns casos, até o PSDB.
O vice-presidente Hamilton Mourão disse nesta quarta-feira, 3, que, se o convite do Planalto for aceito, a coalizão terá como contrapartida cargos no governo. Nos bastidores, porém, Bolsonaro já avisou que, mesmo cedendo, não existirá "porteira fechada" na Esplanada ou em qualquer repartição federal para nenhum partido. No jargão político, o termo significa que uma mesma sigla tem o direito de preencher todos os cargos de um ministério, estatal ou autarquia.
Criticado pela fragilidade da articulação, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, tentou nesta quarta se aproximar de seus antigos colegas e almoçou na casa do deputado Fábio Ramalho (MDB-MG), que, em fevereiro, disputou e perdeu a eleição para a presidência da Câmara. "Para que nós tenhamos uma base constituída, precisamos dialogar, convidar e abrir a porta", observou Lorenzoni. Apesar de concordar com Mourão, o ministro disse que as negociações nada têm a ver com "toma lá, dá cá".
Reuniões
Bolsonaro terá encontros separados, nesta quinta, com os presidentes do DEM, PSDB, MDB, PP, PSD e PRB. As reuniões começaram pela manhã. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), não participará desses encontros. Irritado com críticas recebidas do grupo de Bolsonaro nas redes sociais, Maia protagonizou, nos últimos dias, uma troca de farpas com ele.
Ao Estado, chegou a afirmar que "o governo é um deserto de ideias" e pediu que Bolsonaro deixasse o Twitter para cuidar da gestão. Dias depois, disse que o capitão reformado estava "brincando de presidir o País". O presidente reagiu e classificou a declaração como "uma irresponsabilidade".
A partir daí, entraram em cena "bombeiros" para jogar água na fervura. Mesmo assim, Maia e Bolsonaro não se falaram e os dirigentes de partidos estão céticos em relação à possibilidade de uma sólida aliança com o governo. "Esse ruído de comunicação está superado, mas precisamos de pessoas que trabalhem pela convergência", admitiu o presidente do DEM, ACM Neto, que almoçará hoje com Bolsonaro e Onyx, na companhia do governador de Goiás, Ronaldo Caiado.
O DEM controla três ministérios (Casa Civil, Saúde e Agricultura), mas, por enquanto, não pretende formalizar sua entrada na coalizão. "Primeiro, precisamos entender que tipo de base o presidente pretende ter", afirmou ACM Neto, que é prefeito de Salvador.
Na avaliação do presidente do MDB, Romero Jucá (RR), o ambiente político está conturbado por causa de declarações polêmicas. "O discurso de enfrentamento é muito negativo, mas sempre é tempo de ajustes", comentou Jucá. Questionado se o MDB apoiará a reforma da Previdência, o ex-senador disse que o partido tem compromisso com a agenda econômica. "Mas temos de saber qual a modelagem proposta", ressalvou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Estadão // AO