A avaliação é feita em tom de certa resignação. Assessores do presidente Michel Temer costumam elencar os números positivos obtidos pela administração do emedebista, que hoje estarão numa cartilha a ser distribuída durante o evento de balanço de dois anos de gestão, na tentativa de mostrar que poucos governos fizeram tanto quanto o atual.
Segundo eles, não fosse o desgaste político de Temer, o presidente não só teria condições de se candidatar à reeleição como poderia chegar pelo menos ao segundo turno. Graças, afirmam, aos resultados positivos na economia e na área social durante esses dois anos de governo.
Só que, admitem, Temer é um teflon seletivo e ao contrário. O que é bom não cola na imagem dele. Já o que é ruim fica grudado e não sai.
Os motivos, avaliam assessores mais realistas, não estão ligados apenas às denúncias feitas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Temer no ano passado e as investigações em curso na Polícia Federal, que associam a imagem do presidente a casos de corrupção. Esses fatos pesam, mas também outros no campo político minam as forças do emedebista.
Um exemplo é ele ter começado sua administração sofrendo desgastes, com a queda de nada menos que seis ministros em 2016 e a prisão de alguns ex-ministros e amigos.
Pesam ainda contra Temer suas medidas polêmicas, com recuos forçados diante de críticas, como a flexibilização na fiscalização do trabalho escravo no Brasil e a permissão para mineração em área ambiental na Amazônia.
A equipe de Temer destaca ainda que o presidente acabou perdendo pontos junto à população por causa de suas propostas de reforma, importantes para o país, mas consideradas impopulares.
Entre elas, as reformas trabalhista e da Previdência Social. A primeira foi aprovada. A segunda, não.
Cartilha com o balanço do governo
Enfim, o fato é que Temer, apesar de ter avançado nestes dois anos, perdeu mais força política do que ganhou. No evento desta terça-feira (15), a cartilha elaborada por sua equipe irá trazer dados na seguinte linha, que vão estar também em campanha publicitária que será veiculada em breve:
A inflação caiu de 9,39% para 2,68%;
a taxa de juros do Banco Central foi reduzida de 14,25% para 6,5%;
a fila de pessoas em busca de benefícios do Bolsa Família foi zerada, sendo que havia 1,9 milhão de famílias em busca do programa em maio de 2016;
governo reajustou os benefícios do Bolsa Família duas vezes, em 12,5% e 5,67%;
foram contratadas 38 mil novas unidades por mês no Minha Casa, Minha Vida.
A cartilha, de 36 páginas, diz em sua capa: “Avançamos, dois anos de vitórias na vida de cada brasileiro”.
Em seguida, diz: “O Brasil voltou”. Uma tentativa de fazer uma ligação com o coro de campos de futebol, quando um time se recupera de uma fase negativa e ganha um campeonato: “O campeão voltou”.
Uma trapalhada feita no convite para o evento acabou sendo um retrato do governo atual. Lá, estava impresso: “O Brasil voltou, vinte anos em dois”.
Sem a vírgula e lida apressadamente, a interpretação seria a oposta da pretendida. De que o país poderia ter retrocedido vinte anos em dois. Sem falar que era uma busca de recriar o slogan do ex-presidente Juscelino Kubitschek, “Cinquenta anos em cinco”. Enfim, até quando é para faturar o governo Temer arranja um jeito de tropeçar nas próprias pernas.
Daí o comentário de alguns assessores: fosse outro o presidente, sem o desgaste político e as trapalhadas da sua equipe, ele teria condições de se candidatar à reeleição e ir pelo menos para o segundo turno.
Munição na economia ele tem, mas a imagem não ajuda nem um pouco e inviabiliza o projeto do MDB de permanecer no comando do Palácio do Planalto.
Têm até razão. Mas a própria equipe de Temer reconhece que a imagem do presidente se desgastou tanto que ele não consegue capitalizar o que de bom foi feito na sua administração.
Isso é, na visão de aliados, resultado das investigações contra o presidente em curso no STF, das denúncias feitas pelo Ministério Público contra ele e pelo fato de o PT ter conseguido entoar o discurso de que o emedebista seria um traidor.
Para assessores de Temer, fosse outro o presidente, sem o desgaste político acumulado pelo emedebista neste mesmo período, ele teria condições de ser candidato à reeleição e estaria pelo menos no segundo turno.
Da redação com informações do G1 // ACJR