Desde que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (condenado e preso na Operação Lava Jato) chegou à sede da Polícia Federal em Curitiba, no sábado passado, dia 7, a vida do desempregado Eduardo Maciel, 20 anos, mudou drasticamente. Morador do pacato bairro Santa Cândida, na Zona Norte de Curitiba, há oito meses, ele e sua família (pai, mãe e três irmãos) viram na montagem do acampamento "Lula Livre" uma oportunidade de negócios.
Uma placa na porta da casa explica o empreendimento: "Número 1 – R$ 2, número 2 – R$ 3, Banho: R$ 4, carregamento de celular – R$ 2." "Faturamos entre R$ 300 e R$ 400 por dia", disse ele à reportagem, enquanto organizava a fila do banho. Eleitor declarado do deputado Jair Bolsonaro, Maciel não se furta de falar de política com os militantes petistas que chegam em busca de algum alívio – ou higiene.
"Voto no Bolsonaro. Vi os vídeos dele e gostei. Se o Lula está preso, não é por acaso", afirmou o jovem, enquanto os integrantes da fila olhavam com reprovação.
Na esquina de cima, o aposentado Atahyde Carlos da Silveira, 59, morador do bairro há 25 anos e eleitor de Lula e Dilma, reclama da "vigília". "Minha vida virou de pernas para o ar. Nossa liberdade de ir e vir está comprometida. Nem o carteiro consegue chegar mais aqui. Tenho que andar com comprovante de residência e não posso mais chamar convidados", disse ele. Do dia para a noite (literalmente), cerca de 500 manifestante segundo a Polícia Militar (os organizadores falam em mil pessoas) se espalharam pelas ruas no entorno da Polícia Federal.
A estrutura de funcionamento é a mesma dos acampamentos recém-criados do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST): há uma organização rigorosa, com divisão de trabalho, provisões de alimentação e água, estrutura provisória de moradia (barracas de lona improvisada e de camping).
O Estado de S. Paulo // AO