Mais mulheres, mais policiais e muito mais mulheres policiais. A disputa pelas prefeituras de capitais deste ano, a primeira após a eleição do presidente Jair Bolsonaro, terá um maior protagonismo de policiais militares, civis e mais candidaturas femininas competitivas.
Ao menos oito mulheres policiais são pré-candidatas a prefeituras do Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Aracaju, Goiânia e Manaus, sendo seis delegadas de polícia e duas policiais militares. Na eleição de 2016, apenas uma policial disputou uma prefeitura de capital, em Goiânia.
As candidaturas vão desde partidos mais à esquerda, como PT e PDT, até legendas conservadoras, como DEM, PSC e Podemos. Pelo calendário eleitoral, as siglas têm que confirmar o nome dos candidatos entre 31 de agosto e 16 de setembro. O registro deve ser feito até 26 de setembro.
Segundo maior colégio eleitoral entre as capitais, o Rio de Janeiro terá a delegada Martha Rocha (PDT) como candidata a prefeita. Deputada estadual em segundo mandato, ela deve encabeçar uma chapa de partidos de centro-esquerda que também inclui PSB, PV e Rede.
Ex-delegada-geral da Polícia Civil do Rio de Janeiro, ela entra na disputa com um discurso contra a violência e a corrupção. “O Rio precisa de gestão competente, de honestidade, de seriedade, de dignidade e de vergonha na cara”, disse a deputada ao lançar sua candidatura, no início de junho.
Em Salvador, o PT escolheu como candidata a Major Denice Santiago, que vai disputar a prefeitura da capital com o apoio do governador Rui Costa (PT). Segunda mulher a alcançar a patente de major na Polícia Militar da Bahia, Denice ganhou notoriedade ao comandar a Ronda Maria da Penha, equipe que cuida da segurança de mulheres sob medida protetiva.
"Acho fantástica a possibilidade de nós, trabalhadoras da segurança pública, participarmos de uma disputa eleitoral. Mostra que nós estamos ocupando um espaço e temos muito a contribuir com a gestão pública", afirma Denice à Folha.
Sua escolha como candidata a prefeita, contudo, gerou resistências dentro do PT. Setores do partido criticaram o fato de a pré-candidata não ter um histórico de militância na sigla e ser uma expressão da corporação da Polícia Militar.
Denice diz que as resistências foram superadas. "Minha história se confunde com a própria história do PT. Represento a corporação [Polícia Militar] que o PT gostaria que existisse, uma segurança pública de direitos, que vai cuidar das pessoas."
A pré-candidata afirma que o Brasil tem uma tradição de militares de esquerda que remete a Carlos Lamarca e a Luís Carlos Prestes.
O PT também escolheu uma policial para disputar a Prefeitura de Goiânia. A deputada estadual Adriana Accorsi, que integra os quadros da Polícia Civil de Goiás há 20 anos, concorrerá ao cargo pela segunda vez.
No Recife, a delegada Patrícia Domingos é pré-candidata pelo Podemos. Ela ganhou visibilidade na capital pernambucana ao comandar a Delegacia de Crimes contra a Administração e Serviços Públicos, que foi extinta pelo governador Paulo Câmara (PSB) em novembro de 2018 para a abertura de um departamento de combate ao crime organizado.
A mudança gerou polêmica porque, com o ato oficial, a policial voltou para a Delegacia de Homicídios. Nos bastidores, integrantes do governo a acusam de usar o cargo para perseguição política. Sete deputados foram investigados.
Poucos dias antes da eleição de 2018, a delegada indiciou sob suspeita de contratação de funcionários fantasmas a então vereadora do Recife Marília Arraes (PT), sua potencial adversária na disputa pela prefeitura da capital pernambucana. O Ministério Público do Estado de Pernambuco arquivou o inquérito.
À Folha Patrícia diz que está conversando com o deputado federal Daniel Coelho (Cidadania) e o ex-ministro Mendonça Filho (DEM), também pré-candidatos, para composição de uma chapa única.
Em Aracaju, duas delegadas devem entrar na disputa municipal: Georlize Teles (DEM) e Danielle Garcia (Cidadania). Em Manaus, o PSC, partido do governador Wilson Lima, deve lançar o nome da delegada Débora Mafra. Ela atuava na delegacia especializada de combate a crimes contra mulheres.
O maior protagonismo das mulheres nesta eleição municipal não ficará restrito às policiais. Ao todo, 38 mulheres são pré-candidatas às prefeituras de 21 capitais, levando em conta os partidos com representação no Congresso Nacional.
Na eleição de 2016, foram 26 candidatas às prefeituras nas capitais pelos maiores partidos, das quais 11 tiveram votação acima de 10% e apenas uma foi eleita: Teresa Surita (MDB), em Boa Vista.
A principal diferença na eleição deste ano é o maior número de pré-candidatas consideradas competitivas na maioria das capitais. Cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre terão pelo menos três candidaturas femininas.
No espectro da esquerda, nomes como Manuela D’Ávila (PC do B), Fernanda Melchionna (PSOL) e Juliana Brizola (PDT) disputam a Prefeitura de Porto Alegre, e Marília Arraes (PT) aparece como uma das favoritas no Recife.
No campo conservador, a deputada federal Joice Hasselmann é a pré-candidata do PSL em São Paulo. No PSDB, a ex-deputada Conceição Sampaio caminha para disputar a Prefeitura de Manaus com apoio do prefeito Arthur Virgílio.
O avanço de candidaturas femininas deve ganhar impulso após o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ter definido que pelo menos 30% dos recursos do fundo eleitoral devem ser aplicados no financiamento de candidatas mulheres.
O pleito nas capitais também terá uma maior presença de policiais, independentemente do gênero. Ao todo, 21 policiais civis e militares são pré-candidatos.
Nomes ligados ao bolsonarismo como Capitão Wagner, pré-candidato à Prefeitura de Fortaleza, e Delegado Éder Mauro, em Belém, disputam a prefeitura pela segunda vez consecutiva e são considerados competitivos. Ambos ficaram entre os deputados mais votados nas eleições de 2014 e 2018 em seus estados.
Mas nem todos são alinhados ao bolsonarismo. Campeão de votos para deputado na Bahia, o Pastor Sargento Isidório (Avante) vai disputar pela segunda vez a Prefeitura de Salvador. Ele é aliado do governador da Bahia, Rui Costa (PT), e crítico de Bolsonaro, sobretudo em temas como o porte de armas.
O PSOL, por sua vez, decidiu ter o delegado Mário Leony como candidato a prefeito de Aracaju. O policial é um dos fundadores da Rede Nacional de Operadores de Segurança Pública LGBTI+. Chegou a ser candidato a deputado federal em 2018, mas não obteve sucesso nas urnas.
A capital sergipana caminha para ter a eleição com mais policiais na disputa pela prefeitura dentre as capitais brasileiras. Além de Danielle Garcia (Cidadania), Georlize Teles (DEM) e Mário Leony (PSOL), também é pré-candidato o delegado Paulo Márcio (DC).
Diante da profusão de candidatos policiais, o prefeito Edivaldo Nogueira (PDT) pode ter como candidata a vice a delegada Katarina Feitosa (PSD). Ela deixou o posto de delegada-geral da Polícia Civil de Sergipe e entra na disputa com o apoio do governador Belivaldo Chagas (PSD).
BNwes/// Figueiredo