Emblemático personagem e um dos primeiros delatores da Operação Lava Jato, no Paraná, o doleiro Alberto Youssef foi chamado para prestar depoimento aos investigadores da Operação Pedra no Caminho, investigação sobre desvios e fraudes no Rodoanel Norte, em São Paulo. Há pouco mais de um mês, Youssef esteve na Superintendência da Polícia Federal, na capital paulista, e contou que entregou dinheiro, a pedido do chefe da propina da OAS, José Ricardo Breghirolli, em endereços de São Paulo. O delator não citou nomes de destinatários.
O doleiro relatou que "o dinheiro era entregue nos endereços indicados" por José Ricardo por ele próprio e por seu funcionário Rafael Ângulo Lopes – também delator da Lava Jato.
Alberto Youssef foi preso pela Polícia Federal em 17 de março de 2014 e deixou a cadeia após 2 anos e oito meses de custódia, em 17 de novembro de 2016.
"Talvez Rafael Ângulo se recorde de algum endereço ou nome do destinatário final do dinheiro; que no dia em que foi preso na 1ª fase da Operação Lava Jato, em março de 2014, havia no cofre de seu escritório uma determinada quantia de dinheiro em espécie que seria usada em algumas entregas a pedido da OAS, por meio de José Ricardo, com as respectivas anotações de endereço e o nome do destinatário nesta cidade de São Paulo/SP", contou ele. "Tanto o dinheiro quanto as anotações de nomes e endereço foram apreendidas por ocasião do cumprimento do mandado de busca e apreensão em seu escritório; que se tratava da quantia aproximada de R$ 1,6 milhão; que eram três endereços nesta cidade de São Paulo/SP; que as quantias que José Ricardo lhe entregava variavam muito, aproximadamente de R$ 150 mil a R$ 2 milhões."
À Polícia Federal, Alberto Youssef detalhou a maneira como operava o caixa dois da OAS. O doleiro disse que começou a atuar para a empreiteira em 2012. "Aproximadamente em meados do ano de 2012, o declarante estreitou suas relações com José Ricardo Breghiroli, à época funcionário da OAS", afirmou. "Se colocou à disposição de José Ricardo para a prestação de serviços para a OAS e, então, naquela época de 2012, passou a prestar serviços de operação de 'caixa dois' também para a OAS, sempre por intermédio de José Ricardo."
Youssef declarou que "em uma periodicidade de uma duas vezes por semana, encontrava-se com José Ricardo, ao longo dos anos de 2012, 2013 e início de 2014, quando então José Ricardo lhe entregava altas quantias de dinheiro em espécie, bem como apontava endereços e respectivos valores em que os montantes deveriam ser entregues".
"Guardava o dinheiro em espécie para José Ricardo em um cofre que mantinha em seu escritório e, à medida que ele o demandava, entregava o dinheiro em espécie nos endereços que José Ricardo lhe passava; que além de entregar dinheiro em espécie nos endereços que José Ricardo lhe indicava, também acontecida de devolver parte desses valores em espécie para José Ricardo, sempre a pedido dele", relatou o doleiro. "A função do declarante nas negociações com José Ricardo era receber o dinheiro em espécie que ele lhe entregava e fazer os respectivos pagamentos, a partir das orientações que dele recebia."
O doleiro disse que "funcionava como uma espécie de 'conta-corrente' da OAS, de modo que, uma vez por mês, batia com José Ricardo em uma planilha os 'débitos/créditos' e, em seguida, destruíam o documento".
"Talvez, uma ou duas planilhas desse controle que fazia com José Ricardo tenham sido apreendidas ou entregues por ocasião da celebração de seu acordo de colaboração premiada; que está anotado nesses controles que se trata da 'conta-corrente' da OAS; para gerenciar essa 'conta-corrente', a OAS não fez uso das empresas de fachada controladas pelo declarante, de modo que todas as transações ocorreram por meio de dinheiro em espécie", contou Alberto Youssef.
Outro lado
A Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa) disse que ela e o Governo do Estado de São Paulo são os "grandes interessados acerca do andamento das investigações". "Todas as obras realizadas pela Companhia foram licitadas obedecendo-se à legislação em vigor. Além disso, a obra foi iniciada somente com o projeto básico. Portanto, após a elaboração do projeto executivo, quando as medições são ajustadas, é possível que haja acertos."
A empresa ressaltou ainda que, "se houve conduta ilícita com prejuízo aos cofres públicos, o Estado irá cobrar as devidas responsabilidades, como já agiu em outras ocasiões". "A Companhia reforça seu compromisso com a transparência e se mantém, como sempre o faz, à disposição dos órgãos de controle para colaborar com o avanço das investigações."
Estadão // AO