Diálogos obtidos pela Polícia Federal entre funcionários de uma transportadora de valores usada pela Odebrecht citam supostas entregas de R$ 1,5 milhão em dinheiro na casa de um ex-assessor do governo Geraldo Alckmin (PSDB) durante as eleições de 2014. As conversas mantidas por Skype revelam o nome, o endereço e o telefone do advogado Sebastião Eduardo Alves de Castro, que foi funcionário comissionado do ex-secretário de Planejamento e tesoureiro da campanha do tucano Marcos Monteiro.
As mensagens trocadas por funcionários da empresa Transnacional contêm os mesmos valores e senhas vinculados aos supostos repasses de caixa 2 para a campanha de Alckmin nas planilhas da Odebrecht. Segundo o ex-presidente de Infraestrutura da empreiteira Benedicto Junior, o destinatário dos recursos para a reeleição do tucano a governador em 2014 era Marcos Monteiro, cujo codinome usado era "M&M".
A reprodução das conversas citando o ex-assessor de Monteiro apareceu no relatório feito pela PF no inquérito que investiga o pagamento de R$ 14 milhões da Odebrecht a políticos do MDB, entre eles o presidente Michel Temer. Segundo a empreiteira, todos os pagamentos acima de R$ 500 mil eram viabilizados pelo doleiro Álvaro Novis, que usava a Transnacional para fazer as entregas em hotéis e residências em São Paulo.
Segundo as conversas obtidas pela PF, foram duas entregas, uma de R$ 500 mil, no dia 29 de agosto, com a senha "bolero", e outra de R$ 1 milhão, no dia 16 de setembro, com a senha "cimento". Ambas para o "senhor Eduardo Castro" na "Rua Manguatá", no Brooklin, endereço da casa do ex-assessor.
À reportagem, Alves de Castro disse ser amigo de Monteiro, mas negou ter recebido qualquer dinheiro em nome do ex-secretário e atual presidente da Investe SP, agência de fomento do governo. "Não tenho nada disso, pelo amor de Deus. Nessa altura do campeonato, não é possível. Estou, de fato, preocupado", disse o advogado, que também foi conselheiro da Companhia Energética de São Paulo (Cesp).
Alckmin e Monteiro são alvo de ação de improbidade administrativa movida na semana passada pelo Ministério Público de São Paulo, que atribui a ambos enriquecimento ilícito pelo suposto recebimento de R$ 7,8 milhões da Odebrecht em 2014.
A defesa de Marcos Monteiro não quis se manifestar. Já a defesa de Alckmin afirmou que "a reportagem mistura documentos que não têm relação entre si para fazer ilações de maneira irresponsável" e que o tucano "nunca recebeu ou autorizou que recebessem em seu nome doações ilegais". A Odebrecht afirmou que está colaborando com a Justiça. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. // AO