Política

Deputados presos pela PF lotearam postos do Detran em 20 municípios do RJ, diz MPF

Investigações da força-tarefa da Lava Jato dizem que departamento cedeu cargos a deputados, que nomeariam pessoas de sua confiança.

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Alguns dos alvos da Operação Furna da Onça, da esquerda para a direita, começando na fileira de cima: Affonso Monnerat, André Correa, Chiquinho da M â?? Foto: Reprodução/TV Globo e Editoria de Arte/G1

Investigações da força-tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro mostram que os dez deputados estaduais presos nesta quinta-feira (8) lotearam postos do Detran em 20 municípios do estado, segundo a denúncia do Ministério Público Federal.

A investigação do loteamento, de acordo com procuradores, começou com a apreensão do notebook do deputado Edson Albertassi, então líder do MDB, na Assembleia Legislativa do RJ e um dos supostos beneficiados no esquema.

No computador, constava a divisão de controle dos postos em cada cidade. As investigações mostram que a empresa Prol, vencedora dos contratos para fornecimento de mão de obra nos postos, disponibilizava cargos para indicação dos deputados.

Na planilha, cada parlamentar aparece com um número determinado de cargos disponíveis, chegando a indicar diretores de unidades. São indicações para chefes de unidades, responsáveis por vistorias, e assistentes.

De acordo com as investigações, o ex-presidente da Alerj e deputado afastado Jorge Picciani é quem indicou a cargos em postos em mais cidades: seis (Nova Iguaçu, Queimados, Belford Roxo, São João de Meriti, Teresópolis e Três Rios).

Leitura de e-mails, obtidos a partir de quebra de sigilo autorizada pela Justiça, ainda na operação Cadeia Velha, em 2017, mostra o deputado Paulo Melo com ingerência junto a uma funcionária do grupo Facility/Prol e a Carla Adriana Pereira, diretora de Registro de Veículos no Detran/RJ.

"Chiquinho da Mangueira tinha 74 indicações. Luiz Martins, sozinho, tinha 137. Entre os 40 que estavam com indicação de Paulo Melo, 15 apareciam como prestadores de serviço em campanhas eleitorais do próprio deputado", afirmou a procuradora Renata Ribeiro Baptista.
Segundo os investigadores, o Detran era manipulado para a realização de atividades de interesse de grupos corruptos. O deputado Paulo Melo era considerado o “dono” do Detran", disse a delegada Xênia Soares, da PF.

Ainda de acordo com a denúncia, a empresa ganhava os contratos e, além da propina paga à quadrilha do ex-governador Sérgio Cabral, disponibilizava cargos aos deputados estaduais para que eles votassem projetos de interesse da empresa de propriedade do empresário Arthur César Soares, o Rei Arthur.

O esquema começou, segundo os procuradores, em 2005, durante o governo Rosinha Garotinho, e se expandiu no governo Sérgio Cabral. Não há, até o momento, qualquer investigação contra a ex-governadora.

Além de possíveis vantagens ilícitas que poderiam ser obtidas pelo grupo nos postos do Detran, os funcionários da terceirizada indicados pelos parlamentares ainda atuavam em campanhas políticas. Isso, de acordo com o Ministério Público Federal (MPF), lhes garantiu votação expressiva nas regiões onde eles têm controle das unidades.

O esquema da Furna da Onça
O esquema de compra e venda de votos na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) movimentou ao menos R$ 54 milhões, segundo informou o superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, Ricardo Saadi. A declaração foi dada em entrevista coletiva nesta quinta-feira (8), após a deflagração da Operação Furna da Onça, que investiga o que o Ministério Público Federal chama de "mensalinho" da Alerj. Os valores chegavam a R$ 900 mil.

A investida cumpriu todos os 22 mandados de prisão – três alvos já estavam presos desde o fim de 2017, quando da Operação Cadeia Velha. No total, dez são deputados estaduais, cinco deles reeleitos.

Também foi alvo da operação o secretário estadual de Governo, Affonso Monnerat, apontado como o canal entre Alerj e Palácio Guanabara – o governador, Luiz Fernando Pezão, não é investigado.

O nome da operação é referência a uma sala ao lado do plenário da Alerj onde deputados se reúnem para discussões reservadas antes de votações.

22 mandados cumpridos:
PODER EXECUTIVO

Affonso Monnerat, secretário estadual de Governo, preso nesta quinta;
Leonardo Jacob, presidente do Detran, preso nesta quinta;
Vinícius Farah (MDB), ex-presidente do Detran, eleito deputado federal, preso nesta quinta.
PODER LEGISLATIVO

André Corrêa (DEM), deputado estadual reeleito e ex-secretário estadual de Meio Ambiente, preso nesta quinta;
Chiquinho da Mangueira (PSC), deputado estadual reeleito e presidente da escola de samba, preso nesta quinta;
Coronel Jairo (MDB), deputado estadual não reeleito, preso nesta quinta;
Edson Albertassi (MDB), deputado afastado – já preso em Bangu;
Jorge Picciani (MDB), deputado afastado – já em prisão domiciliar;
Luiz Martins (PDT), deputado estadual reeleito, preso nesta quinta;
Marcelo Simão (PP), deputado estadual não reeleito, preso nesta quinta;
Marcos Abrahão (Avante), deputado estadual reeleito, preso nesta quinta;
Marcus Vinícius Neskau (PTB), deputado estadual reeleito, preso nesta quinta;
Paulo Melo (MDB), deputado afastado – já preso em Bangu;
ASSESSORES E AUXILIARES

Alcione Chaffin Andrade Fabri, chefe de gabinete e operadora financeira de Marcos Abrahão – presa nesta quinta;
Carla Adriana Pereira, assessora de registros do Detran – presa nesta quinta;
Daniel Marcos Barbiratto de Almeida, enteado e operador financeiro de Luiz Martins – preso nesta quinta;
Jennifer Souza da Silva, empregada do Grupo Facility/Prol, vinculada a Paulo Melo – preso nesta quinta;
Jorge Luis de Oliveira Fernandes, assessor e operador financeiro de Coronel Jairo – preso nesta quinta;
José Antonio Wermelinger Machado, ex-chefe de gabinete e principal operador financeiro de André Corrêa – preso nesta quinta;
Leonardo Mendonça Andrade, assessor e operador financeiro de Marcos Abrahão – preso nesta quinta;
Magno Cezar Motta, assessor e operador financeiro de Paulo Melo – preso nesta quinta;
Shirlei Aparecida Martins Silva, ex-chefe de gabinete de Edson Albertassi e subsecretária dos Programas Sociais da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia, Inovação e Desenvolvimento Social – preso nesta quinta.
Segundo o MPF, os "mensalinhos" e prêmios pagos para deputados se distribuíram da seguinte maneira:
André Corrêa (DEM): R$ 100 mil/mês
Edson Albertassi (MDB): R$ 80 mil/mês + R$ 1 milhão
Chiquinho da Mangueira (PSC): mais de R$ 3 milhões
Coronel Jairo (SD): R$ 50 mil/mês + prêmio
Jorge Picciani (MDB): R$ 400 mil/mês + prêmio
Luiz Martins (PDT): R$ 80 mil/mês + R$ 1,2 milhão
Marcelo Simão (PP): R$ 20 mil/mês
Marcos Abrahão (Avante): R$ 80 mil/mês + R$ 1,5 milhão
Marcus Vinicius “Neskau” (PTB): R$ 50 mil/mês
Paulo Melo (MDB): R$ 900 mil/mês + prêmio
O que dizem os citados
André Corrêa: ao chegar à PF, na Praça Mauá, André Corrêa afirmou que "quem não deve não teme". "Sigo com a minha promessa de tirar o Psol da presidência da Comissão de Direitos Humanos”, emendou. Corrêa ainda garantiu que mantém a postulação à presidência da Alerj.

Affonso Monnerat: “O governo do estado desconhece os fatos e não teve acesso aos autos do processo”.

Chiquinho da Mangueira: A assessoria do parlamentar afirmou nesta quinta que ainda não conseguiu contato com o advogado dele.

Coronel Jairo: Assessoria do gabinete ainda não se pronunciou.

Leonardo Jacob: "O Detran está à disposição das autoridades para qualquer esclarecimento.”

Luiz Martins: ninguém atendeu no gabinete do deputado.

Marcelo Simão: O gabinete estava vazio quando o G1 tentou contato.

Marcus Vinícius Neskau: A assessoria do deputado afirma que o parlamentar recebeu a ordem de prisão temporária com muita indignação e estranheza, justo em um período de articulações políticas sobre a votação para a próxima composição da Presidência da Alerj – onde o deputado já havia se manifestado pelo voto a favor do deputado André Corrêa. No entanto, o parlamentar segue seu compromisso com a população de dar transparência a seu mandato, afirmando sua inocência e colaborando com todas as investigações, prestando todos os esclarecimentos à Polícia Federal, Ministério Público e Justiça.

Vinícius Farah: “O sr. Vinicius Farah confia na Justiça e afirma que a situação será devidamente elucidada. Ele já se apresentou às autoridades em Brasília para os devidos esclarecimentos. Ele estava na cidade para agenda de trabalho”, disse, através de assessoria de imprensa

G1 // AO