Política

Delator da Lava Jato admite que foi pressionado para citar Lula em depoimento

"Era uma pressão em cima da gente [...] E estava nítido que a questão era com o Lula", relatou

Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Mais uma trama da Operação Lava Jato ganha novos contornos. Um dos principais delatores na época, o ex-executivo da Odebrecht, Alexandrino Alencar admitiu que sofreu pressão de procuradores da força-tarefa para citar Lula (PT) e envolvê-lo no seu acordo de delação.

Em entrevista ao filme "Amigo Secreto", da cineasta Maria Augusta Ramos e que entra em cartaz nesta quinta-feira (16) nos cinemas brasileiros, Alexandrino afirmou que havia um direcionamento nas investigações para prejudicar o ex-presidente.

"Era uma pressão em cima da gente […] E estava nítido que a questão era com o Lula", relatou.

Segundo Alexandrino, um dos delatores foi liberado ao citar o nome do tucano Aécio Neves como um dos beneficiados de um caixa dois. "Isso é um sistema anticorrupção ou é uma questão direcionada?", questionou o ex-executivo.

O mesmo aconteceu com outras pessoas, que teriam mentido para ter a pena reduzida.

"Se eu falasse mais, eu estaria inventando. Estaria contando uma mentira como aconteceu com alguns [delatores] que você sabe, notórios, que mentiram para tentar escapar", diz ele. "Eu contei a verdade. Eu cheguei no limite da minha verdade.", garante Alexandrino, que contou saber de mais pessoas que foram liberadas após citarem o ex-presidenciável Aécio Neves.

Ele conta que os interrogadores insistiam em questões sobre "o irmão do Lula, o filho do Lula, não sei o que do Lula, as palestras do Lula [a empreiteira contratou o ex-presidente mais de uma vez para falar em eventos]".

"Nós levávamos bola preta, 'ah, você não falou o suficiente'. Vai e volta, vai e volta. 'Senão [diziam os interrogadores], não aceitamos o teu acordo", segue o ex-empreiteiro em seu relato.

A narrativa de Alexandrino Alencar coincide com reportagens publicadas na época da Lava Jato, e que diziam que o Ministério Público Federal resistia em aceitar a delação do então executivo já que ele não citava Lula, nem outros políticos, em suas revelações. Segundo informações da Folha de S. Paulo, somente após ceder, os investigadores concordaram em assinar um acordo de delação premiada com ele.

Alexandrino relatou em seus depoimentos os gastos da empreiteira com a obra no sítio de Lula em Atibaia entre 2010 e 2011.

O ex-presidente foi condenado em 2019 a 12 anos e 11 meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro por causa das reformas feitas pela construtora na propriedade. 

O processo foi anulado anos depois após o Supremo Tribunal Federal (STF) considerar o ex-juiz Sergio Moro como suspeito no caso do tripléx e que se estendeu a outros julgamentos do petista.