Foi há um ano, no final de um 5 de abril, que os rumos políticos do Brasil tiveram um marco decisivo para as eleições que aconteceriam em outubro de 2018. Um dia antes o Supremo Tribunal Federal (STF) manteve a decisão de que condenados em segunda instância poderiam ser presos para a execução penal. Próximo às 17h daquele dia, o então juiz Sérgio Moro determinou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fosse preso para cumprir a pena de 12 anos e um mês. As consequências desse episódio ainda não foram totalmente digeridas.
O ex-presidente foi preso dois dias depois, após o prazo determinado por Moro, em um apoteótico ato em São Bernardo do Campo, construído com muitos simbolismos para transformá-lo em um mártir. A construção narrativa de que havia perseguição política contra Lula ganhou corpo, porém não tomou a proporção esperada pelo seu entorno. Encarcerado em Curitiba (PR), Lula assistiu de longe a ascensão de Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto, enquanto a esquerda viu ruir as investidas de um Fernando Haddad tardiamente apresentado como candidato e incapaz de controlar o ímpeto da direita conservadora, que chegou ao poder, pela primeira vez, pela via democrática.
Ao longo dos últimos meses, Lula não deixou de ser o maior líder político da história recente do Brasil. No entanto, perdeu completamente a aura mítica que durante tanto tempo teve, ao menos para a esquerda. Os feitos da história do ex-presidente não foram esquecidos. Assim como os eventuais mal feitos durante o tempo em que esteve no poder ou muito próximo a ele. Por essas razões existe tanta controvérsia em torno dele.
Se Lula estivesse livre, seria ele presidente do Brasil? Se Lula pudesse ter sido candidato, Bolsonaro chegaria tão forte nas urnas? Se Lula fosse inocente, o Judiciário brasileiro estaria cometendo um irreparável erro? Se Lula fosse culpado, estariam todos aqueles que acreditam nele ludibriados pelo canto de uma sereia? Essas perguntas talvez nunca sejam completamente respondidas. São tantas versões para a verdade – e tantas verdades escondidas – que será preciso gerações para entender o que aconteceu em 2018 no país.
O ex-presidente nunca foi apenas um vilão ou um herói. Nesse ponto, ele pode ser equiparado a todos os outros nomes envolvidos nesse trecho da história recente do Brasil. Sérgio Moro, depois de determinar a prisão de Lula, aceitou ser ministro daquele tratado como maior beneficiário do encarceramento do petista. É “bandido” para uns e “mocinho” para outros. Bolsonaro se aproveitou do cenário de terra arrasada da esquerda para chegar ao poder. Enquanto uns o tratam como herói, outros o consideram vilão. Fernando Haddad, considerado a marionete eleitoral de Lula, está do lado “certo” ou “errado”? São tantos questionamentos difíceis de responder.
No futuro, quando tivermos amadurecido o suficiente para entender tudo o que se passou, passaremos por revisionismos históricos? Tomara que isso não aconteça. Uma coisa é certa: quando dormimos no dia 4 de abril de 2018, não tínhamos a plena noção do quanto o dia seguinte seria relevante para o Brasil.
Bn // AO