Mais de três meses após o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aceitar o pedido de impeachment, teve início nesta quinta-feira o trâmite do processo na Casa.
A demora acabou sendo desfavorável a Dilma Rousseff, dado que o cenário de crise política e econômica se agravou ainda mais neste ano.
Em sessão tensa, com parlamentares oposicionistas e governistas disputando – em um duelo “fora PT” x “golpistas” – quem gritava mais alto, foram escolhidos os 65 deputados da Comissão Especial que emitirá uma parecer a favor ou contra a realização de um julgamento da presidente.
Do lado de fora do Congresso, o dia começou com protestos contra e a favor do governo e terminou com manifestantes a pró-impeachment comemorando no gramado a instalação da comissão.
Após acordo costurado entre os principais partidos, a comissão elegeu à noite o deputado Rogério Rosso (PSD-DF) como seu presidente e Jovair Arantes (PTB-GO) como o relator responsável por redigir o parecer final.
Ambos são de partidos da base aliada do governo, mas são próximos de Cunha, grande adversário de Dilma. Contribui para a escolha dos dois o fato de não terem ainda se manifestado publicamente contra ou a favor do impeachment.
Os 65 deputados eleitos haviam sido previamente indicados pelos líderes partidários, respeitando determinação do Supremo Tribunal Federal. Dessa forma, a eleição podia apenas rejeitar ou referendar esses nomes – a chapa acabou aprovada com apoio de 433 deputados e apenas um voto contra.
Essa exigência levou a negociações dentro dos partidos que estão divididos sobre o impeachment, para que as indicações representassem os dois lados da disputa.
Ouvidos pela BBC Brasil, deputados de diferentes partidos, como PMDB, PV, PSB e PSDB, disseram que não está claro ainda para que lado pende a maioria da comissão.
Dentro do governo, o discurso é de que a composição está equilibrada. “Quem quer ter voto não fica contando voto. Temos que trabalhar”, afirmou o líder do PT, José Guimarães (CE), após a eleição dos integrantes.
Parlamentares favoráveis ao impeachment, por sua vez, dizem que têm maioria. “Temos de 35 a 37 votos. Se começou e já está assim, imagina daqui a 30 dias”, disse Rodrigo Maia (DEM-RJ).
O líder do PSOL, Chico Alencar (RJ), diz que “em tese”, considerando os membros indicados pela base do governo, “há uma margem apertada contra o impeachment na comissão”.
“Na prática, porém, com esse ambiente conturbado, partidos saindo do governo, manifestações na rua, vejo uma tendência de que a maioria da comissão vote contra a presidente”, ressaltou o deputado, cujo partido faz oposição ao Planalto, mas defende que Dilma termine seu mandato.
Foto: Reprodução/BBC