O ex-governador Sérgio Cabral afirmou hoje (26), durante depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, que membros da cúpula da Igreja Católica do Rio de Janeiro participaram de transações envolvendo pagamentos de propinas. Cabral citou nominalmente o arcebispo do Rio, cardeal dom Orani Tempesta, e um outro padre, identificado como dom Paulo. O depoimento foi registrado em vídeo ao qual a Agência Brasil teve acesso.
As propinas teriam a ver, segundo o ex-governador, com a organização social (OS) Pró-Saúde, que administra hospitais no Rio de Jasneiro e em outros estados. O depoimento de Cabral foi pedido por ele e fez parte do último ato da Operação Fatura Exposta, que investigou pagamentos de propinas do setor de saúde a agentes públicos.
“Eu não tenho dúvida de que deve ter havido esquema de propina com a OS da Igreja Católica, da Pró-Saúde. Eu não tenho dúvida. O dom Orani devia ter interesse nisso, com todo respeito ao dom Orani, mas ele tinha interesse nisso. Tinha o dom Paulo, que era padre, e tinha interesse nisso. E o Sérgio Côrtes nomeou a pessoa que era o gestor do Hospital São Francisco. Essa Pró Saúde certamente tinha esquema de recursos que envolvia religiosos. Não tenho a menor dúvida”, disse Cabral a Bretas, que em breve determinará as sentenças aos envolvidos.
Outro lado
A Igreja Católica respondeu em nota: “Sobre o depoimento do ex-governador, podemos afirmar que a Igreja Católica no Rio de Janeiro e seu arcebispo têm o único interesse que organizações sociais cumpram seus objetivos, na forma da lei, em vista do bem comum”.
A organização social Pró-Saúde disse em nota que colabora com a investigação: “A Pró-Saúde tem colaborado com as investigações e, em virtude do sigilo do processo, não se manifestará sobre os fatos. A entidade filantrópica reafirma neste momento o seu compromisso com ações de fortalecimento de sua integridade institucional, bem como com a prestação de um importante serviço à saúde do Brasil”.
Solidariedade
Em outro trecho de seu depoimento, Cabral revelou que houve pagamento ao partido Solidariedade, para que este apoiasse, em 2014, a eleição de Luiz Fernando Pezão, que era vice-governador e secretário de Obras.
“Na campanha de 2014 eu pedi dinheiro para pagar o Solidariedade. É uma outra história. O Solidariedade foi, de certa maneira, comprado para apoiar o Pezão em 2014, mas esta é uma outra situação, que o Miguel Iskin [empresário do ramo de produtos médicos, envolvido e preso] ajudou também, pagando por dentro e me deu um dinheiro por fora”, disse Cabral.
O Solidariedade negou. “O Partido Solidariedade repudia as declarações do ex-governador Sérgio Cabral. O partido integrava a base de apoio do seu governo e a decisão de apoiar a reeleição do governador Pezão foi apenas uma continuidade do posicionamento existente. As doações recebidas foram devidamente registradas e as contas aprovadas pelo TSE”, disse em nota.
Agencia Brasil // AO