“Mito, mito, mito!”, gritam em coro cerca de 1 000 pessoas assim que o deputado Jair Bolsonaro desponta no saguão do aeroporto de Campina Grande, na Paraíba.
Ele ergue os braços. As palmas aumentam: “Um, dois, três, quatro, cinco mil, queremos Bolsonaro presidente do Brasil!”. Abraçado, apalpado, fotografado, beijado e empurrado, o capitão da reserva do Exército, já sem conseguir pôr os pés no chão, vai sendo arrastado pela multidão até o estacionamento do aeroporto.
Lá, erguido e carregado nos ombros, termina em cima de um carro de som, microfone na mão. Camisetas visíveis na plateia indicam a presença de alguns grupos: Direita Paraíba, Direita Ceará, Ordem dos Conservadores, Academia de Krav Magá de Campina Grande. Jovens compõem a maioria do público. Muitos são estudantes universitários. Acenam para o visitante e levantam cartazes com os dizeres “Bolsonaro 2018”. Alguns batem continência para o deputado-capitão.
De pé no capô do carro, Jair Bolsonaro (PSC-RJ) lança seus gritos de guerra. Abre com refrões patrióticos: “Este é um brasileiro com o coração verde e amarelo.
Se estou aqui é porque acredito no Brasil!”. Ovações. Critica o Estatuto do Desarmamento, elogia os militares e encerra a fala com seu bordão: “Brasil acima de tudo! Deus acima de todos”. Palmas, gritos, pedidos de selfie (ele atende a todos).
Cenas como a do aeroporto se repetirão ao longo de todo o dia. Bolsonaro cresceu no vácuo deixado por políticos tradicionais tragados pela Lava-Jato ou simplesmente vitimados pela desmoralização crescente e aparentemente sem fim da categoria. É nesse deserto político que até um aventureiro como ele consegue se destacar.
(VJ ( AF)