A resistência à candidatura de Henrique Meirelles (MDB) ao Planalto ultrapassou as fileiras de seu partido e chegou ao terreno em que o ex-ministro da Fazenda costumava circular com mais destreza: o mercado. Empresários e investidores -antes entusiastas de uma eleição com o nome de Meirelles nas urnas- agora pressionam para que ele desista de concorrer à Presidência.
Nas últimas semanas, três dos principais banqueiros do país, Luiz Carlos Trabuco Cappi (Bradesco), Roberto Setúbal (Itaú) e André Esteves (BTG), conversaram com aliados do ex-ministro e manifestaram preocupação com os rumos da economia desde que ele deixou a Fazenda, em abril. Desde então, enumeram, o dólar disparou, a previsão do PIB caiu (de 2,5% para 2%) e houve redução significativa dos investimentos privados.
O cálculo de quem detém boa parte do dinheiro no Brasil é pragmático: Meirelles está estacionado nas pesquisas, com 1% das intenções de voto segundo o Datafolha, e ainda não conseguiu se mostrar eleitoralmente viável, nem mesmo dentro de seu partido. Investidores e empresários se dividem quanto ao que desejam para o ex-ministro, caso ele desista de disputar as eleições: uns defendem que seja vice na chapa de um candidato mais bem colocado, como Geraldo Alckmin (PSDB), outros o querem disponível para assumir a Fazenda no próximo governo. Há ainda quem peça para que ele volte ao comando da equipe econômica.
Parte do grupo tem subvertido um dos slogans de pré-campanha do emedebista para estimular a última opção: "chame o Meirelles". O ex-ministro rebate dizendo que é preciso, sim, "chamar o Meirelles", mas como presidente.
Segundo relatos, ele rechaça as três teses ao dizer que uma aliança com Alckmin é "inviável", ser ministro de um novo governo não está em seus planos, muito menos voltar a seu antigo cargo. Meirelles tem repetido que é hora de "dar chão" aos investidores e isso, afirma, significa "futuro".
A falta de previsibilidade eleitoral, porém, fez com que o mercado começasse a temer um segundo turno entre Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT), cenário que o empresariado considera radicalizado e imponderável para índices como dólar e PIB.
Para eles, Meirelles não demonstrou capacidade de quebrar essa polarização. A participação do ex-ministro no programa "Roda Viva", na semana passada, foi considerada a pá de cal, nas palavras de um investidor, para a candidatura, visto que ele não conseguiu encaixar um discurso convincente sobre a recuperação da economia com a recente piora dos dados.
Desde então, parte do mercado voltou sua atenção aos movimentos de Alckmin para tentar desconstruir a imagem de Bolsonaro. Apesar do desempenho aquém das expectativas -com 7% a 10% no Datafolha-, o tucano iniciou nos últimos dias um processo de polarização com o ex-capitão do Exército, que lidera as pesquisas na ausência do ex-presidente Lula, somado a ataques mais diretos a Michel Temer.
Alckmin quer se colocar à frente de Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes, respectivamente em segundo e terceiro lugares, e se cacifar como o candidato que pode ganhar o apoio do empresariado e de uma aliança de partidos mais ampla. Além de tentar furar a resistência do mercado, Meirelles precisa convencer setores do MDB de que é a melhor opção para a sucessão de Temer.
Assessores do presidente dizem que o clima melhorou para o ex-ministro dentro do partido e que, diante da falta de unidade no campo governista, a tendência é manter sua candidatura, mas ponderam que ele precisa "vestir logo o figurino de candidato".
Eles também rechaçam a possibilidade de o ex-ministro ser vice na chapa de Alckmin, mas dizem que, até a convenção do MDB, no final de julho, Meirelles tem que se apresentar como um nome propositivo e que pode surpreender, posicionando-se de maneira assertiva como o candidato que defende o governo. O ex-ministro da Fazenda tem viajado o país para visitar diretórios estaduais da legenda e tentar vencer resistências internas, ao mesmo tempo em que trabalha para ajustar um discurso mais alinhado ao Planalto.
Folhapress // ACJR