Desastre ambiental

Ato na Alba debate impactos de derramamento de petróleo

Tragédia ambiental atingiu cerca de 120 municípios e mais de 700 localidades em 2019

Evento foi conduzido pelo deputado Marcelino Galo (PT). Foto: Juliana Andrade/Agência ALBA
Evento foi conduzido pelo deputado Marcelino Galo (PT). Foto: Juliana Andrade/Agência ALBA

Entre agosto e novembro de 2019, uma extensão de 4,3 mil quilômetros do litoral brasileiro foi atingida por um derramamento de petróleo. O desastre ambiental foi considerado o maior derrame de óleo bruto da história do Brasil e um dos mais extensos já registrados no mundo. As manchas e resíduos de petróleo percorreram as praias de 11 estados do Nordeste e Sudeste, atingindo cerca de 120 municípios e mais de 700 localidades.

Cinco anos depois, um ato para discutir os impactos do desastre aconteceu na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba). O seminário proposto e conduzido pelo deputado estadual Marcelino Galo (PT) aconteceu na manhã desta sexta-feira (8). O legislador é presidente da Frente Parlamentar Ambientalista na Alba. O evento reuniu ambientalistas, pesquisadores e moradores de áreas atingidas pelo derramamento na Bahia e no estado de Sergipe.

Impactos

A professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Rita de Cássia Franco Rego, doutora em saúde pública, apresentou dados do estudo que avaliou os impactos do derramamento do petróleo na costa da Bahia. A pesquisadora explicou que foram ouvidas 1.055 pessoas na Bahia e no estado de Sergipe.

O levantamento mostrou os seguintes dados:

  • 60% dos entrevistados participaram da remoção dos resíduos
  • 78% relataram não ter recebido treinamento para o manejo
  • 85% parou de pescar por algum tempo
  • 93% não recebeu nenhum recurso financeiro de apoio
  • 95% tiveram danos no local de pesca
  • 40% dos pescadores não tiveram qualquer rendimento durante o período do desastre

O biólogo George Olavo, mestre em estudos marinhos e costeiros e doutor em oceanografia, ressaltou que o derramamento de petróleo no litoral brasileiro afetou a pesca artesanal em diversos aspectos, inclusive de locais que não foram diretamente atingidos.

Como parte de uma reflexão pós-desastre, o pesquisador apontou a necessidade de políticas públicas estruturantes do governo baiano para o desenvolvimento das comunidades pesqueiras tradicionais. Dentre estas ações, Olavo apontou a restauração ambiental de áreas degradadas, recuperação socioeconômicas das cadeias produtivas impactadas e a reparação dos grupos sociais atingidos por desastres ambientais nas comunidades pesqueiras.

Desabafo

O pescador artesanal Carlos Alberto Pinto dos Santos, conhecido como Carlinhos, morador da Reserva Extrativista de Canavieiras, no litoral sul da Bahia, fez um desabafo durante o seminário. “É extremamente traumático lembrar daquele processo e o quanto aquilo nos traz sensação de impunidade, de revolta, cinco anos depois do derramamento do petróleo”, apontou.

Carlos Alberto rememorou a dedicação da comunidade pesqueira para remover as manchas da praia.

“Aquilo era uma violência contra o nosso corpo, contra nossa cultura, o nosso modo de ser e viver. A mobilização de todos os pescadores do litoral brasileiro foi grande porque temos um comprometimento com o ambiente que a gente vive. Colocamos as nossas vidas em defesa daquele território em que a gente vive”, contou.

Por outro lado, o morador da Resex de Canavieiras criticou a ação, ou falta dela, por parte do governo brasileiro. “O Estado brasileiro tem lado. Ele optou por ficar do lado de quem cometeu o crime. Independentemente de quem cometeu o crime, a responsabilidade é do Estado brasileiro em suas diferentes esferas. Se não conseguiu descobrir o responsável, já deveria ter reparado parte do dano que foi causado. E se descobriu, é omisso e conivente com o que aconteceu. Eu acho que sabem que fez, mas optaram por não dizer quem foi”, sugeriu.

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