O deputado estadual Manuel Rocha (União Brasil) defendeu nesta terça-feira (21), durante audiência pública realizada na Comissão de Agricultura da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), que haja maior rigor na importação do cacau africano para a Bahia. O parlamentar ressaltou que o colegiado, do qual é presidente, vai acompanhar de perto a chegada das amêndoas vindas do continente africano para o estado, com o objetivo de adotar medidas para impedir a vinda de pragas e doenças que prejudiquem a cultura cacaueira da Bahia, que é o maior produtor nacional de cacau.
A audiência pública teve como objetivo discutir a chegada do cacau africano e os riscos alertados por produtores da disseminação de pragas e doenças, como a estriga e a Phytophthora megakarya, que estão presentes no continente africano. Participaram do evento representantes de produtores, da indústria do cacau, da Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab) e do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), além de deputados estaduais, que fizeram contribuições ao longo do debate.
Representantes dos produtores manifestaram preocupação com a possível contaminação da lavoura da Bahia e alertaram para o risco de chegada de amêndoas contaminadas. Por outro lado, integrantes da indústria ressaltaram que a importação do cacau africano, em sua maioria da Costa do Marfim, segue um rigoroso processo de análise de risco de praga e que, até hoje, não foi registrada nenhuma ocorrência.
Manuel Rocha ressaltou que a Comissão de Agricultura vai continuar acompanhando o caso. “Tanto produtores como a indústria pertencem ao mesmo ciclo, sabemos que um complementa o outro. No caso da nossa pauta, ambos dependem de uma lavoura cacaueira fortalecida, o que vai potencializar a geração de emprego e renda. Precisamos cada vez mais fortalecer a produção do cacau baiano, com investimentos, linhas de crédito, de forma que a produtividade seja ampliada”, afirmou.
“Nós precisamos ter maior rigor na importação dessas amêndoas, e a Comissão de Agricultura vai acompanhar, vai se fazer presente no Porto de Ilhéus (onde desembarca o cacau africano), de forma que possamos adotar medidas para impedir a chegada de pragas e doenças. A vassoura de bruxa já trouxe prejuízos incontáveis. Por isso, o que precisamos é garantir a segurança e aumentar a produtividade da nossa produção”, complementou Rocha.
Debate
Dentre os participantes, a primeira a falar foi a presidente da Associação Nacional dos Produtores de Cacau (ANPC), Vanuza Barroso, que alertou para os riscos da importação do cacau africano. Ela destacou que são mais de 93 mil produtores no país e em torno de 40 mil na Bahia. “Geramos emprego e renda. (A cultura cacaueira) é totalmente braçal, imagine o estrago que isso (a contaminação por pragas e doenças) pode causar a nível de Brasil e Bahia. Nós já sofremos demais com a vassoura de bruxa e não vamos aceitar isso novamente”, disse.
Anna Paula Losi, presidente-executiva da Associação da Indústria Processadoras de Cacau (AIPC), por sua vez, ressaltou que o setor investiu R$ 132 milhões entre 2017 e 2021 e prevê mais R$ 400 milhões para os próximos quatro anos visando a ampliação e crescimento da cacauicultura. Ela salientou que hoje só é autorizada a importância de amêndoas de Gana, Indonésia e Costa do Mafrim. “A autorização só é dada após rigorosa análise de risco de praga. A indústria atende todos os requisitos estabelecidos pelo Mapa. Nos últimos anos, nenhuma praga, inseto, nenhuma suspeita foi identificada pelo laboratório agronômico, que é credenciado pelo Mapa para fazer a análise do risco de praga”, frisou.
O superintendente de Agricultura e Pecuária da Bahia (órgão vinculado ao Mapa), Fabio Alexandre Rosa Rodrigues, enfatizou que o brometo de metila – gás utilizado para o controle de pragas e doenças – é altamente tóxico. O uso do gás é defendido por produtores para evitar a proliferação de potenciais pragas. “Estamos mexendo com alimentos, produzindo chocolate, que não deve causar problemas de saúde pública. O gás é altamente destruidor da camada de ozônio. Precisamos estruturar a cadeia produtiva, aumentar a produtividade para que a gente possa competir com a Costa do Marfim, revitalizar a Ceplac”, defendeu.