Cinco parlamentares eleitos pelo PSL se espremiam nesta quarta (21) em um dos elevadores de um hotel de Brasília antes de participarem de uma reunião com as bancadas do partido de Jair Bolsonaro.
Estavam incomodados com a indicação do deputado Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) para o Ministério da Saúde, chancelada um dia antes pelo presidente eleito, e comentavam sobre o constrangimento de ter que apoiar um "ministro investigado".
"Ele é o walking dead que o DEM está prestigiando", disse o delegado Pablo (PSL-AM), em referência aos zumbis da série de TV americana. A Folha presenciou a conversa.
Aos companheiros de Congresso, o também novato na Câmara Coronel Chrisóstomo (RO) e a senadora recém-eleita Soraya Thronicke (MS), Pablo não escondia o desconforto de ter que dar respaldo à escolha de Bolsonaro.
"Vou apoiar junto, mas é um ministro investigado, cheio de nó pelas costas, como dizem na minha terra", completou.
Mandetta está em seu segundo mandato como deputado federal mas não se candidatou à reeleição este ano.
Sua indicação para a Saúde foi defendida pelo futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e pelo governador eleito de Goiás, Ronaldo Caiado, ambos do DEM, mas acabou incomodando integrantes do próprio partido, além dos aliados de Bolsonaro.
Como revelou a Folha, Mandetta é investigado por suposta fraude em licitação, tráfico de influência e caixa dois na implementação de um sistema de informatização da saúde em Campo Grande (MS), onde foi secretário.
Ele foi a terceira nomeação do DEM no novo governo e seguiu como tema entre os parlamentares do PSL já dentro da reunião, a portas fechadas e com a presença de Bolsonaro.
O presidente eleito, por sua vez, defendeu as nomeações do DEM. "Alguns ministros, as pessoas têm reclamado, são do DEM. Não são do DEM. Quem indicou a Tereza Cristina [para a Agricultura] foi a bancada agropecuária, e ela é do DEM. Assim como grande parte dos gestores de hospitais filantrópicos, de Santas Casas, o presidente do Conselho Federal de Medicina e da bancada da saúde indicaram o Mandetta e por coincidência ele é do DEM".
Bolsonaro disse que o jogo na Câmara precisa ser jogado "com paciência" e que vê boa vontade de partidos de centro-direita com o novo governo.
Senador eleito pelo PSL, Major Olímpio (SP) fez um dos discursos mais inflamados do encontro contra as nomeações do partido de Onyx e reclamou do pouco acesso a Onyx.
Um dos poucos deputados do PSL a se reeleger, Delegado Waldir (GO) também reclamou da difícil interlocução com o futuro ministro mesmo para os aliados de primeira hora.
Responsável pela articulação política do governo Bolsonaro, Onyx tem pouco trânsito no Congresso e já se desentendeu com os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunicio Oliveira (MDB-CE).
As indicações para as pastas causaram ruído entre integrantes do próprio DEM.
Maia, por exemplo, teme que o excesso de indicações prejudique as articulações para sua reeleição ao comanda da Câmara e disse que os ministérios que a sigla vai ocupar não são indicações do partido, mas sim de Bolsonaro.
Em seu discurso, o presidente eleito adotou tom apaziguador e chegou a falar sobre a insatisfação de parlamentares de seu partido. "Ele disse: 'eu entendo que alguns de vocês estão insatisfeitos e querem estar mais perto do governo, nós precisamos de vocês'", afirmou a deputada eleita Joice Hasselmann (SP).
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