Polícia

Lava-Jato prende Pastor Everaldo e mira suspeitos de elo com Witzel; saiba quem são

Além do presidente do PSC, o ex-secretário de Desenvolvimento Econômico Lucas Tristão e o ex-prefeito de Volta Redonda Gothardo Lopes Netto estão entre os alvos

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Everaldo Dias, o Pastor Everaldo, durante a campanha eleitoral Foto: Reprodução/ Facebook

 

Agentes da Polícia Federal estão nas ruas para cumprir mandados de prisão e de busca e apreensão contra agentes públicos, políticos e empresários envolvidos no esquema de desvios na saúde liderado pelo governador Wilson Witzel, segundo a acusação, em crimes de corrupção e lavagem de dinheiro do grupo liderado pelo governador.

Entre os alvos de prisão está o presidente do PSC, Pastor Everaldo, já preso, o advogado Lucas Tristão, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico de Witzel, e o médico e ex-prefeito de Volta Redonda Gothardo Lopes Netto.

Há mandados de prisão também contra os empresários Mário Peixoto e os sócios Alessandro Duarte e Cassiano Luz, porém, eles já se encontram presos alvos da operação Favorito, realizada em maio.

As semelhanças e confluências entre o esquema desbaratado na operação Calicute, que prendeu Sérgio Cabral, e o de agora na ação denominada  Tris in idem, indicam que assim como o ex-governador, Wilson Witzel se cercou de integrantes de dentro e de fora do governo para dar continuidade ao esquema de corrupção, a exemplo de seu antecessor.

Vejam quem é quem no escândalo:

Helena Witzel

 

A primeira-dama Helena Wtizel Foto: Arte/O GLOBO

 

A primeira-dama Helena Wtizel Foto: Arte/O GLOBO

Conhecida pela postura linha dura e de pouco trato como funcionários e servidores dos Palácios Guanabara e Laranjeiras , Helena Alves Brandão Witze costuma participar de de quase todas as decisões do marido.

A PGR sustenta que Witzel usou o escritório de advocacia da mulher,para receber dinheiro desviado por intermédio de quatro contratos simulados no valor aproximado de R$ 500 mil – cerca de R$ 15 mil mensais de cada uma das quatro.

Ao contrário da ex-primeira-dama Adriana Ancelmo, contudo, Helena Witzel tinha uma discreta e recente atuação da advocacia. Os investigadores concluíram que ela tinha casos praticamente inexpressivos antes de ver o marido tomar posse, em janeiro de 2019.

Em seguida, quatro contratos com empresas ligadas a Mario Peixoto (três) e Gothardo Lopes Neto (um), ex-prefeito de Volta Redonda, passaram a render à primeira-dama R$ 60 mil mensais.

Um email escrito por Witzel, apreendido pela PGR, orienta os interessados a redigir o contrato com o escritório de Helena. Chamou também a atenção dos investigadores a participação da primeira-dama em um processo de execução fiscal da família do médico Gothardo Lopes Netto, ex-prefeito de Volta Redonda e ex-deputado estadual, dona do Hospital Infantil e Maternidade Jardim Amália Ltda (HINJA), maior unidade de saúde privada do município.

O processo,  que tramita na Justiça Federal de Volta Redonda, já tinha como advogado Lucas Tristão, ligado ao esquema, porém, no decorrer da ação, a primeira-dama entrou com uma petição para avisar que estava ingressando na mesma causa e passando a advogar para o hospital.

É quando, segundo as investigações, passou a receber os R$ 15 mil mensais apenas por esse serviço. Não há nenhum outro documento no âmbito desse processo que tenha justificado o vultoso pagamento opor apenas uma petição.

A advogada e o ex-juiz se conheceram na faculdade, quando Witzel dava aulas em Vila Velha, no Espírito Santo.

Pastor Everaldo

 

Pastor Everaldo, presidente do PSC Foto: Arte/O GLOBO

Pastor Everaldo, presidente do PSC Foto: Arte/O GLOBO

 

Com mais de 30 anos de atuação nos bastidores da política nacional, o Pastor Everaldo aprendeu a se movimentar entre partidos de direita e esquerda com desenvoltura, principalmente no Rio, seu domicílio eleitoral, onde transitou pelos governos de Leonel Brizola, Benedita da Silva, Anthony Garotinho e Sérgio Cabral. Foi colado no ex-deputado Eduardo Cunha e o partido do qual é presidente, o mesmo PSC de Witzel, abrigou por anos a família Bolsonaro.

Para além de sua ligação com a religião, sua maior aventura na política  foi disputar a Presidência em 2014 ficando na quinta colocação, com 780 mil votos.  Já sua grande cartada até então havia sido a invenção do “poste” Witzel na surpreendente eleição de 2018, quando contrariando todas as pesquisas eleitorais o ex-juiz  derrotou Eduardo Paes.

Pastor da Assembleia de Deus em Madureira, chefiada pelo Bispo Manoel Ferreira, Everaldo ganhou fama no meio político por ser considerado pragmático, organizado e tenaz. Ele se filiou ao PSC em 2003 e fez crescer exponencialmente o número de deputados eleitos depois de ter assumido o comando da legenda.

Como dono do partido, ele comprou a ideia da candidatura de Witzel quando ela era tratada como uma piada e aparecia com apenas 1% das intenções de voto. Hoje se tornou um articulador da relação com o Legislativo do Rio.

Com espaço amplo na gestão de Witzel, o presidente do PSC tem influência no Detran e ainda emplacou o filho, Filipe Pereira, como assessor especial do governador. Também é responsável pela indicação de Carlos Braz., filho de um obreiro da igreja para a diretoria do Interior da Cedae, responsável pelas obras da Chison.

O pastor já havia sido citado na Lava-Jato por um executivo da Odebrecht Ambiental. Ele teria recebido  R$ 6 milhões para favorecer Aécio Neves no debate presidencial de 2014, quando foi candidato ao Planalto.

De um tempo para cá, após as operações que miraram o entorno do governador, Everaldo tem tomado distância do Palácio Guanabara e causou suspense em comentários nas redes sociais dando indiretas com mensagens bíblicas para Witzel, como mostrou “Época”.

Um dos motivos das rusgas entre Everaldo e Witzel teria como pivô o ex-secretário de Desenvolvimento Econômico Lucas Tristão, também alvo da Lava-Jato.  Considerado braço direito do governador desde os tempos em que dividiam o mesmo escritório de advocacia, Tristão demitiu indicados do pastor no governo. Ele foi exonerado após as investigações da Lava-Jato indicarem ligação entre ele e Mário Peixoto, um dos cabeças do esquema de desvios na saúde.

 

O Globo //// Figueiredo