Foram 20 dias de incertezas e dor. Lá no fundo ainda havia um pouco de esperança de receber a qualquer momento a notícia de que o estudante Jonas Ribeiro dos Santos Neto, 17 anos, estava vivo.
Mas, a cada dia que passava, ela ia se esvaindo. Na tarde do sábado (5), quando o pedreiro Djalma de Sena Santos, 52, viu o corpo de um jovem encontrado com marca de tiro na mala de um Fiat Palio com restrição de roubo, a um quarteirão da casa da família, deixou de existir qualquer esperança.
O corpo está irreconhecível. A identidade só será confirmada após os exames que serão realizados pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT), mas o coração de pai diz que ali é seu filho.
Coincidência ou não, o corpo encontrado na localidade de Planeta dos Macacos, em São Cristóvão, com mãos e pés amarrados e um saco na cabeça, estava vestido com camisa preta e bermuda jeans clara, exatamente como Jonas saiu de casa pela última vez, no dia 15 de dezembro.
Ele havia ido a um aniversário em Itapuã, na casa de um amigo do Colégio Estadual Helena Mateus, onde concluiu em 2018 o 2º ano do Ensino Médio. Segundo a família, Jonas saiu da festa cedo e, por volta das 22h, já estava no ônibus retornando pra casa. No entanto, por distração, passou do ponto de ônibus que deveria descer e foi parar no fim de linha do Parque das Bromélias.
"Meu pai conversou com o motoristas e outras testemunhas também contaram que dois homens tiraram ele de dentro do ônibus e mandaram o motorista ir embora. Mesmo vendo isso, o motorista não prestou queixa", lamenta a irmã de Jonas, a professora de Filosofia Daila Ataíde, 26.
Desde a noite do 15 de dezembro a família não teve mais sossego. O último contato com Jonas foi quando ele já estava no ônibus, voltando pra casa. Deveria chegar em menos de 30 minutos, mas não apareceu mais."Não conseguimos dormir. Ele nunca tinha dormido fora de casa, por isso a nossa preocupação", conta.
No dia seguinte, o pai tentou fazer a ocorrência no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), mas não conseguiu. Só na terça que conseguiu registrar o desaparecimento na 12ª Delegacia, em Itapuã. "Essa procura se estendeu até ontem (sábado). Era um menino bom, que não se envolvia com nada errado", diz a irmã.
Jonas era o caçula de quatro filhos. A família o descreve como um jovem cheio de vida, muito comunicativo e que amava o Natal. Segundo a irmã, às vezes ele dizia que queria ser biólogo, em outras, voltava atrás e falava que seria um lutador de boxe.
"Estamos todos muito abalados. Meu irmão mais velho está sendo dopado todos os dias, já teve um princípio de infarto. Minha mãe também está mal. Meu pai que está sendo forte e resolvendo tudo. Perdemos até a noção do tempo", conta Daila.
Ainda segundo a irmã, Jonas tinha conseguido um estágio na Procuradoria Geral do Estado (PGE) e estava feliz porque começaria a trabalhar no dia 3 de janeiro. "Ele tinha feito planos para comemorarmos o meu aniversário, que foi no dia 3 de janeiro, o mesmo dia que ele começaria no estágio.
Após o desaparecimento, a vizinhança se mobilizou para buscar informações sobre o paradeiro do estudante, fez manifestações, e até página em rede social foi criada na expectativa de achar Jonas.
Agora, mesmo sem a confirmação da identificação do corpo, a família considera que a busca já foi encerrada. Esperam só a confirmação e liberação do corpo para sepultá-lo no Cemitério Municipal de Itapuã, onde foram enterradas outras pessoas da família.
"Tínhamos esperança de encontrá-lo vivo até a quarta-feira passada, quando recebi a informação que ele foi assassinado no Parque das Bromélias. Soube que existem dois cemitérios clandestinos lá. Como o corpo tinha sinais de lama, deve ter sido enterrado lá e só agora botaram em um carro e deixar aqui perto de casa", disse a irmã de Jonas, a professora de Filosofia Daila Ataíde.
Em nota, a Polícia Militar informou que homens da 49ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/São Cristóvao) foram acionados para atender uma denúncia de homicídio na localidade conhecida como Planeta dos Macacos, no bairro São Cristóvão, por volta das 9h30 de sábado (5).
No local, a equipe localizou um corpo dentro de um veículo. O Serviço de Investigação em Local de Crime (Silc) foi acionado para remoção do corpo e realização de perícia.
De acordo com a assessoria de comunicação da Polícia Civil, o DPT ainda trabalha na identificação do corpo e o DHPP investiga a autoria e motivação do crime.
Correio // Figueiredo