Política

Vereadores acusam prefeito de Jeremoabo de utilizar atestados médicos para escapar da Justiça Eleitoral; entenda

Deri do Paloma é investigado por abuso de poder político e econômico nas eleições de 2020

Reprodução/Redes sociais
Reprodução/Redes sociais

Investigado por abuso de poder político e econômico nas eleições de 2020, o prefeito de Jeremoabo, Deri do Paloma (PP), tem utilizado atestados médicos para escapar de audiências na Justiça Eleitoral, segundo vereadores da oposição. Em pelo menos quatro ocasiões, o gestor da cidade do norte baiano teria usado a manobra para protelar a análise dos casos.

A primeira audiência estava marcada para 19 de abril, quando Deri do Paloma ficaria diante de 45 testemunhas para responder sobre uma suposta falsificação de exames de Covid-19 no último pleito eleitoral. Consta no processo que o político atuou para impedir que eleitores supostamente contaminados pelo vírus ficassem impedidos de votar em candidata adversária, em razão do isolamento social imposto pela pandemia.

Outra audiência prevista para 19 de maio também foi adiada por causa de um atestado apresentado por Deri do Paloma. A Justiça Eleitoral analisaria o processo segundo o qual o prefeito é acionado por suposta compra de votos nas eleições de 2020 com a promessa de doação de bens, pagamentos em dinheiro a eleitor e demissão de servidores.

Deri do Paloma é alvo de ação de autoria da bancada oposicionista na Câmara Municipal. No processo, a parte pede que o atual gestor tenha o mandato cassado e torne-se inelegível por oito anos. A denúncia foi protocolada há um ano e quatro meses na Justiça Eleitoral. Os atestados médicos foram apresentados pelo advogado Michel Soares Reis e acolhidos pelos juízes eleitorais Paulo Eduardo Menezes e Leandro Ferreira de Moraes. Em meio aos adiamentos, o juiz Paulo Eduardo pediu licença do cargo praticamente às vésperas de uma nova audiência marcada por ele mesmo.

Covid-19 

Ao menos dez moradores do bairro Vilas de Brotas tiveram diagnósticos positivos em testes realizados pela gestão municipal por determinação do candidato à reeleição, mas as contraprovas indicaram diagnósticos negativos. As testemunhas relataram na ação que profissionais da Saúde fizeram busca ativa na região indicando que haveria um surto de Covid-19 no local, embora a população estivesse assintomática.

De acordo com a denúncia, os resultados dos testes rápidos teriam sido manipulados pela secretaria municipal da Saúde, que recomendou aos moradores quarentena de 14 dias, justamente no período da eleição municipal de 2020. Os eleitores se submeteram a testes em clínicas particulares e tiveram resultado negativo.

A eleição em Jeremoabo foi decidida por uma diferença de 159 votos. “Temos certeza que esta mesma prática foi adotada em outros locais da cidade, mas os moradores ficaram com medo de denunciar. O dinheiro para combate à Covid-19 foi utilizado para fins eleitorais”, acredita a bancada da oposição na Câmara Municipal de Jeremoabo.

Entre os integrantes do grupo estão o presidente do Legislativo, vereador Carlos Henrique Dantas Oliveira (PSD), e os vereadores Antônio Chaves, Domingos Pinto, Manoel José de Souza Gama, José Raimundo Reis, Benedito Oliveira e Sidney dos Reis Macedo.

A realização direcionada de exames de Covid-19 em Vilas de Brotas, diz a ação, vai na contramão da adoção de medidas de combate à pandemia na cidade de poucos mais de 40 mil habitantes. "Nenhuma cidade dispunha de testes suficientes, mas a administração municipal de Jeremoabo direcionou a aplicação de exames em reduto eleitoral da candidata adversária”, ressalta a bancada oposicionista.

Incentivos fiscais

Ainda segundo a denúncia apresentada pela bancada de oposição, durante a campanha eleitoral, Deri do Paloma anunciou que a empresa de laticínios Natville seria instalada em Jeremoabo. Com a suposta chegada da fábrica ao município veio a promessa de campanha de geração de quatro mil empregos.

Para viabilizar a instalação da Natville, conforme o grupo de vereadores, o prefeito e candidato à reeleição concedeu incentivos fiscais, prática vedada pela Justiça Eleitoral durante a campanha. 

Além disso, currículos de interessados teriam sido direcionados ao então vice-prefeito Lula de Dalvino (DEM), que ficou responsável por coletar dados apenas de potenciais eleitores de Deri do Paloma. Após deixar o mandato de vice-prefeito, Lula tornou-se representante da Natville e não viabilizou a geração de um emprego sequer.

Compra de votos

Os denunciantes ainda acusam o prefeito de desviar materiais de construção comprados pela prefeitura para a construção de uma academia de saúde e da Praça Almiro Ramos, no bairro José Nolasco, e doar para eleitores para que concluíssem obras em residências particulares, à época da campanha. "É uma prática antiga, né? Em troca, a pessoa teria que votar nele na eleição", denunciam os edis.

"A gente chegou, inclusive, a ver funcionários da prefeitura transportando cimento pronto para rebocar a casa de moradores. Até a imprensa chegou a ser agredida por tentar denunciar a irregularidade", completam.

Em um dos casos, um morador teria recebido um recibo informando que teria direito a uma caixa d'água paga pela prefeitura. Ao tentar fazer a retirada após a eleição, o homem que teria sido beneficiado foi informado de que não poderia retirar o produto porque não votou em Deri do Paloma.