As três vítimas de pedofilia no Chile que se encontraram com o papa Francisco durante o último feriado, no Vaticano, afirmaram nesta quarta-feira (2) que esperam que as mãos do líder católico “não tremam” na hora de adotar medidas contra abusos sexuais por parte do clero.
Juan Carlos Cruz, James Hamilton e José Andres Murillo, vítimas do padre Fernando Karadima, deram uma coletiva de imprensa em Roma, após uma série de reuniões com o Pontífice nos últimos dias, e disseram que Jorge Bergoglio se mostrou “sincero e aberto”, além de ter pedido perdão mais uma vez.
“O Papa nos pediu perdão, em seu nome e de toda a Igreja.
Apreciamos esse gesto”, declararam os chilenos, que agora cobram ações concretas para punir os responsáveis por crimes de pedofilia no clero.
“Esperamos agora que o Papa não hesite, que suas mãos não tremam. Ele mesmo disse que os abusos não são pecados, mas sim crimes”, afirmou Murillo. “Quando me pediu perdão, o fez do fundo do coração, nunca tinha visto alguém tão sentido, mas agora espero ações”, reforçou Cruz.
As vítimas não miram tanto em Karadima, já condenado pelo Vaticano, mas sim em altos prelados acusados de terem acobertado durante anos casos de pedofilia no Chile. Seus principais alvos são o bispo de Osorno, Juan Barros, e o arcebispo emérito de Santiago, cardeal Francisco Javier Errázuriz, colaborador próximo do Pontífice e membro do conselho que trabalha na reforma da Cúria.
As futura medidas do Papa devem vir a público nas próximas semanas, quando os 33 bispos chilenos viajarão ao Vaticano – não se exclui que alguns cheguem a Francisco com cartas de renúncia em mãos.
Entenda – O escândalo de pedofilia no Chile gira em torno do padre Fernando Karadima, 87 anos, condenado pelo próprio Vaticano por violência sexual contra menores. No entanto, as vítimas também acusam o bispo de Osorno, Juan Barros, 61, de ter acobertado os casos. Em sua visita ao Chile, em janeiro, o Papa chegou a dizer que as denúncias contra Barros eram “calúnias”, o que provocou a ira das vítimas e críticas até do cardeal Sean O’Malley, líder da comissão antipedofilia criada pelo Pontífice. Já na viagem de volta a Roma, Francisco pediu desculpas por ter contestado os relatos das vítimas, e, pouco depois, enviou o arcebispo de Malta, Charles Scicluna, para aprofundar as investigações no país latino. O relatório produzido por Scicluna tem 2,3 mil páginas e depoimentos de 64 vítimas e parentes de pessoas afetadas por casos de abuso sexual. Após ler o documento, que cita outros episódios de acobertamento, o Papa admitiu que cometera “erros de avaliação” sobre o escândalo e convidou os sobreviventes – como eles próprios se autodenominam – para o Vaticano.
ANSA /// ACJR