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Captura de ex-negociador das Farc ameaça acordo de paz na Colômbia

Protesto em 9 de abril de 2018 em Bogotá contra a prisão do negociador da ex-guerrilha Farc, Jesús Santrich

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O acordo de paz que permitiu o desarmamento das Farc na Colômbia entrou em “seu ponto mais crítico”, após a captura de um negociador da ex-guerrilha procurado nos Estados Unidos por tráfico de drogas.

Esta foi a advertência feita nesta terça-feira (10), separadamente, pelo agora partido de esquerda Farc e o governo do presidente Juan Manuel Santos.

“Com a captura do nosso camarada Jesús Santrich, o processo de paz está em seu ponto mais crítico e ameaça ser um verdadeiro fracasso”, disse o porta-voz da formação Iván Márquez em um comunicado lido à imprensa em Bogotá.

Santrich, que devia assumir uma das 10 cadeiras parlamentares cedidas aos outrora rebeldes marxistas, foi detido na segunda-feira em Bogotá a pedido dos Estados Unidos.

O ex-negociador de paz poderia ser extraditado a esse país onde enfrenta acusações por conspirar para o envio de 10 toneladas de cocaína, advertiu o presidente Santos.

Segundo as autoridades, Santrich tentou seguir com atividades do narcotráfico depois de o acordo ter sido assinado no final de 2016, o que o exclui dos benefícios jurídicos que blindam os ex-guerrilheiros diante dos requerimentos da Justiça americana.

A acusação da Procuradoria de Nova York assegura que Santrich entregou quilos de cocaína para demonstrar que podia ter acesso a toneladas da droga e enviá-la aos Estados Unidos.

Também assinalam que entre junho de 2017 e abril, Santrich e outros três homens que identifica como ex-guerrilheiros – Marlon Marín, de 39 anos; Armando Gómez, conhecido como “El doctor”, de 70 anos; e Fabio Simón Younes Arboleda, de 72 anos – “trabalharam juntos para produzir e distribuir aproximadamente 10 mil quilos de cocaína da Colômbia aos Estados Unidos e outros lugares”.

Eles são acusados de três crimes: uma por conspiração para importar cocaína as Estados Unidos, e duas por tentar importar cocaína ao país.

Entretanto, a Força Alternativa Revolucionária do Comum (Farc) denunciou que esta prisão faz parte de um “plano orquestrado pelo governo dos Estados Unidos com o concurso da Procuradoria colombiana”.

– Pedido de calma –

O comissionado de paz do governo, Rodrigo Rivera, concordou que a paz enfrenta sua crise “mais séria, grave e delicada” desde o início da implementação do acordo.

De 51 anos e portador de deficiência visual, Seusis Pausivas Hernández, conhecido como Jesús Santrich, foi detido antes da visita que o presidente americano, Donald Trump, realizaria no fim de semana à Colômbia.

A Casa Branca anunciou nesta terça-feira o cancelamento da viagem, assim como do comparecimento do presidente à Cúpula das Américas, em Lima.

Santrich está preso na sede da Procuradoria e começou uma greve de fome.

“É claro que estamos diante de outra montagem da Justiça americana, como aconteceu com os processos contra Simón Trinidad”, preso em uma cadeia americana, afirmou Márquez.

Os ex-guerrilheiros acusaram o governo de Santos de múltiplos incumprimentos, em meio ao conflito que ainda persiste em algumas partes do país e que é financiado em grande parte pelo narcotráfico.

A todos “pedimos que mantenham a calma, não aceitem a provocação (…) É indiscutível que se pretende forçar a fuga ao processo para justificar a continuidade da violência”, assinalou Márquez.

– Encontro de urgência –

Em meio aos temores por uma eventual reativação da violência, a Farc pediu um encontro de urgência com Santos.

Pedimos ao presidente “que cumpra o acordo e a palavra dada, referendada recentemente”, assinalou seu porta-voz.

Também solicitou uma reunião com “os países patrocinadores, Cuba e Noruega”, assim como com a ONU e a União Europeia para analisar a situação.

A crise desatada pela captura de Santrich ocorre alguns dias depois de o novo partido de esquerda pedir ajuda diante da “situação de precariedade” que rodeia os 26 territórios onde os ex-combatentes se concentram.

Nessas zonas não há “condições dignas” de saúde, moradia, serviços públicos, e tampouco está garantida a segurança alimentar e o desenvolvimento econômico, segundo a Farc.

AFP // ACJR