A nave espacial americana New Horizons realizou uma viagem histórica. Passados mais de nove anos de tentativa, a espaçonave conseguiu chegar ao ponto mais próximo de Plutão já alcançado. Nesta última terça-feira (14), às 8h49, no horário de Brasília, a nave da Nasa passou a apenas 12,4 mil quilômetros do planeta anão e completou o principal objetivo de uma jornada de 4,77 bilhões de quilômetros.
É como se um observador do tamanho de uma bactéria atravessasse a distância de 400 quilômetros para ver, a um metro de distância, uma esfera do tamanho de uma bola de futebol de salão. As câmeras da nave, porém, são potentes o suficientes para observar o Parque do Ibirapuera, em São Paulo, a altitude de 12 mil quilômetros.
Horas antes do sobrevoo histórico, a New Horizons teve todos seus instrumentos de comunicação desligados para se concentrar na captação de dados. Por 22 horas, ela se dedicou exclusivamente a captar imagens e informações científicas do planeta, produzindo cem vezes mais dados do que seria capaz de enviar para a Terra nesse intervalo. As informações são enviadas por ondas de rádio e viajam na velocidade da luz, levando 4 horas e 25 minutos para chegar à Terra. Às 21h55 de ontem, a Nasa informou que a nave voltara a enviar dados, indicando o sucesso total da missão.
Antes mesmo do encontro com Plutão, a New Horizons já havia enviado imagens que permitiram aos cientistas calcular o tamanho exato do planeta anão, que tem diâmetro de 2.370 quilômetros – dois a mais que o estimado anteriormente. A descoberta indica que a densidade do planeta é um pouco menor do que se pensava, assim como a quantidade de gelo em seu interior e a espessura da atmosfera de nitrogênio e metano.
Bill McKinnon, um dos cientistas da Universidade de Washington, envolvidos na missão, disse que o tamanho de Plutão era debatido desde a sua descoberta, em 1930: “Estamos entusiasmados por finalmente podermos solucionar essa questão”. Com o tamanho definido, Plutão passa a ser oficialmente o maior objeto conhecido do Cinturão de Kuiper, uma zona repleta de detritos congelados que flutuam além da órbita de Netuno.
Em 2005, a descoberta de Eris, um objeto mais distante dessa região, fez com que os cientistas reclassificassem Plutão como um planeta anão. Eris era tão brilhante que parecia maior que Plutão, mas medições posteriores indicaram que Eris tem 2.338 quilômetros de diâmetro.
"Na minha opinião, Plutão continua sendo um planeta, já que tem estações e atmosfera. É apenas um tipo diferente de planeta. Nem todo cientista concorda com isso, mas a ciência não é uma democracia e um fato não é verdade apenas porque a maioria pensa que é", disse Marc Buie, do Observatório Lowell e um dos cientistas responsáveis pela New Horizons.
Coração
As últimas imagens de Plutão enviadas antes do sobrevoo mostravam detalhes jamais vistos de sua superfície. Chamou a atenção uma grande mancha em forma de coração. "Minha previsão era de que encontraríamos algo maravilhoso e de fato encontramos", disse Alan Stern, pesquisador responsável pela missão.
Agora, os cientistas esperam a análise dos dados que serão recebidos a partir de hoje, com precisão sem precedentes. "Nossos dados amanhã (hoje) terão resolução dez vezes maior que a das imagens enviadas até agora", afirmou Stern. "Essas imagens mostraram que Plutão e Caronte são mundos complexos. Há muita coisa acontecendo lá. Nossa equipe está trabalhando o mais rápido que pode para entender a estrutura molecular do gelo na superfície dos objetos, além da idade e características geológicas das crateras", disse Will Grundy, do Observatório Lowell, e pesquisador da missão.
A nave, equipada com sete instrumentos científicos diferentes, é a mais rápida já lançada e cruzou a órbita de Plutão a quase 50 mil km/h. Após seu lançamento na Flórida, levou apenas nove horas para ultrapassar a órbita da Lua – as missões Apollo até a Lua levaram três dias.
A New Horizons passou perto de Júpiter 13 meses depois, usando a gravidade do planeta gigante para tomar impulso. O "embalo gravitacional" acelerou a nave para mais de 83 mil km/h, fazendo-a economizar três anos e oito meses de viagem. A nave ficou em "hibernação" por dois terços da viagem: foram 18 "sonecas" entre 2007 e 2014, até o despertar definitivo em 6 de dezembro de 2014.
A quantidade de dados obtida pela espaçonave no sobrevoo é tão grande que ela continuará enviando informações por mais 17 meses, enquanto pesquisa outros objetos do Cinturão de Kuiper. A Nasa prevê que a nave tenha sua missão prorrogada para além de 2017. Depois disso, ela poderá seguir para o espaço interestelar, escapando da gravidade do Sol.
(Foto: Reprodução/Nasa)