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Alunos pobres de países ricos aprendem mais do que estudantes de elite do Brasil

O desempenho escolar de crianças e adolescentes é determinante para a produtividade de um país

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O país onde você vive é mais importante para sua formação escolar do que a renda da sua família. Essa é a principal constatação de um estudo produzido por pesquisadores da Universidade de Harvard e do Centro para o Desenvolvimento Global, nos Estados Unidos.

A conclusão do levantamento pode ainda ser resumida da seguinte forma: alunos pobres de países ricos tendem a ter um desempenho escolar melhor que o de alunos ricos de países pobres.

O desempenho escolar de crianças e adolescentes é determinante para a produtividade de um país — e consequentemente, para o enriquecimento e desenvolvimento dessa nação. Por isso, a formação educacional deveria ser uma preocupação não só da família, como de toda a sociedade, alertam os responsáveis sobre o estudo.

Pode explicar melhor sobre a pesquisa? Fazer um comparativo do grau de instrução de crianças e jovens de diferentes países é uma tarefa desafiadora, pois muitas vezes os testes aplicados não são comparáveis. Aqui no Brasil, por exemplo, os alunos participam do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), elaborado pela OCDE, a cada biênio. O teste avalia os conhecimentos em matemática, ciências e literatura de estudantes de 79 países.

O problema é que o Pisa avalia apenas alunos do ensino médio. Portanto, o teste não mede o nível de desenvolvimento da educação infantil. Outros exames internacionais, como o TIMSS (Trends in International Mathematics and Science Study), que avalia os conhecimentos em matemáticas e ciência, e o PIRLS (Progress in International Reading Literacy Study), que mede os conhecimentos em leitura e literatura, são aplicados para estudantes mais jovens, do 4º e 8º ano. A questão é que muitos países em desenvolvimento, inclusive o Brasil, não fazem parte do teste.

“Países ricos participam frequentemente de avaliações internacionais de ensino, como o PIRLS e o TIMSS, mas países mais pobres geralmente não participam. Na melhor das hipóteses, eles aplicam os próprios testes educacionais, que não são comparáveis em escala global”, observam Dev Patel e Justin Sandefur, autores do estudo.

O grande pulo do gato da pesquisa é justamente criar condições para que os testes aplicados localmente por países em desenvolvimento sejam comparáveis com os resultados dos exames internacionais adotados por países mais ricos. Para que isso seja possível, Patel e Sandefur criaram um método estatístico específico, chamado de “pedra de roseta”, que basicamente simula qual seria o desempenho de estudantes de países em desenvolvimento nos testes do TIMSS e PIRLS.

E qual foi o resultado dessa simulação? A pesquisa mostrou que o fator de maior peso para o seu desempenho escolar é o país onde você mora, com 46% de peso no resultado final, seguido pela renda familiar, com 32% de peso. O resultado é surpreendente, pois mostra que a renda familiar (que indica a capacidade de custeio de um estudo de melhor qualidade) é menos importante do que o sistema educacional instituído no país como um todo.

“Essa evidência vence aquela impressão inicial de que alunos ricos simplesmente têm desempenho melhor, pois indica que alunos com o mesmo nível de renda têm diferentes graus de conhecimento educacional, dependendo do país em que eles moram”, dizem os autores do estudo.

Apesar dessa constatação, os autores lembram que em países desiguais, como o Brasil, a renda tem um poder maior que a média sobre o desempenho individual dos alunos. Nos testes de matemática, por exemplo, um aluno que ocupa a base da pirâmide de renda (ou seja, que está entre os mais pobres) pode ter um desempenho até 100 pontos menor que o de um aluno que ocupa o topo da pirâmide de renda. A nota máxima do teste é de 650 pontos, e os alunos brasileiros pontuaram entre 370 e 475.

Ainda assim, o que é possível concluir a partir dos dados é que mesmo os estudantes brasileiros de famílias mais ricas, e que portanto chegaram aos melhores resultados no comparativo dos testes, têm um desempenho educacional inferior a alunos pobres de países como Rússia, Estados Unidos, Alemanha, Japão e Coreia do Sul.

Em um dos casos mais surpreendentes, o da Rússia, um aluno com renda familiar anual de US$ 2.000 tem um desempenho melhor em matemática do que um aluno brasileiro com renda familiar anual de US$ 15.000. Como cada país tem uma moeda e um custo de vida diferente, a renda foi padronizada de acordo com o critério do PPC (PIB por Paridade de Compra), para que os resultados sejam comparáveis.

Quais outros fatores influenciaram o resultado da pesquisa? O estudo mostrou que o gênero dos alunos reproduz um resultado desigual na educação até mesmo em países desenvolvidos. Meninos têm um desempenho melhor nos testes de matemática, enquanto as meninas se mostram melhores na leitura e literatura.

Em países pobres, a diferença de desempenho entre meninos e meninas se acentua, em razão de leis ou regras que excluem as garotas do ensino tradicional, ou até por fenômenos sociais, como o casamento e a gravidez precoce, que acabam afastando as estudantes da escola.

O modelo educacional é chave para entender as diferenças

A experiência da brasileira Andrezza Ricardo, de 31 anos, que mora há 10 anos nos Estados Unidos, é uma das muitas que comprovam o que a pesquisa demonstra, em números. Depois de nascer e morar por 8 anos na Flórida, Andrezza e a irmã-gêmea vieram para o Brasil, onde concluíram o ensino fundamental. No ensino médio, elas voltaram a morar nos Estados Unidos, mas ficaram lá por um breve período. Ambas retornaram ao Brasil e fizeram o segundo e terceiro ano do ensino médio em uma escola brasileira.

“Na Flórida, estudamos na chamada ‘escola semipública’. O ensino é custeado pelo Estado, mas os pais são obrigados a retribuir com serviços voluntários para a comunidade local. Apesar de ser gratuito, esse ensino é considerado superior nos Estados Unidos”, contou Andrezza.

Ela diz que ao retornarem para iniciar o ensino médio na Flórida, ela e a irmã sofreram um choque. “Há primeiro a questão da estrutura, que é muito diferente. Mesmo as escolas públicas daqui têm bibliotecas equipadas e computadores para que os alunos possam estudar. O conteúdo é diferente: a quantidade de matéria é muito maior do que no Brasil, e os alunos estudam muitas horas mais por dia”.

Agora mãe de uma menina de 3 anos, Andrezza conta que continua a perceber as diferenças entre o sistema educacional dos dois países. “Minha filha frequenta uma escola particular agora, mas eu e meu marido estamos decidindo se a matricularemos em uma escola pública, pois por mais que essas escolas sejam frequentadas por famílias norte-americanas de menor renda, a qualidade do ensino é muito boa”, conta.

 

Reprodução: 6 minutos

da Redação do LD

 

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