Tensão no 'Velho Mundo'

Alemanha elege novo parlamento em meio a ascensão da extrema-direita

Eleições parlamentares na Alemanha acontecem neste domingo (23) em um período de crise econômica no país

Alemanha elege novo parlamento em meio a ascensão da extrema-direita
Foto: Ricardo Stuckert/PR

Os alemães votam neste domingo (23) para eleger o novo Parlamento, que definirá o próximo chanceler da maior economia da Europa. A eleição ocorre em um cenário de recessão econômica, com o Produto Interno Bruto (PIB) caindo 0,3% em 2023 e 0,2% em 2024, e de avanço da extrema-direita, representada pela Alternativa para a Alemanha (AfD).

Entre os temas que dominaram o debate eleitoral estão a guerra na Ucrânia, o aumento dos preços da energia, a imigração e a segurança nacional.

De acordo com as pesquisas, o partido conservador União Democrata Cristã (CDU), liderado por Friedrich Merz, é o favorito. A CDU, da ex-chanceler Angela Merkel, pode formar uma coalizão majoritária no Bundestag, o Parlamento alemão. Já o atual chanceler, Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD) – foto em destaque à direita -, enfrenta uma possível derrota significativa, com previsão de perda de cadeiras no Legislativo.

Crescimento da extrema-direita e da esquerda

A AfD, liderada por Alice Weidel, tem chances de se tornar a segunda maior força política do país. Weidel, que tem um perfil atípico para a extrema-direita — é casada com uma imigrante do Sri Lanka e tem dois filhos —, defende políticas duras contra a imigração, o fim da guerra na Ucrânia e da Otan. A legenda, criada em 2013, ganhou força com um discurso nacionalista e crítico à União Europeia (UE).

Por outro lado, partidos de esquerda como A Esquerda (Die Linke) e a Aliança Sahra Wagenknecht (BSW) também devem crescer. A BSW, fundada em 2023, combina propostas contra a imigração com políticas econômicas e de saúde de esquerda. Ambos os partidos criticam o apoio alemão à Ucrânia e defendem o fim da guerra.

Crise econômica e imigração

A crise econômica, agravada pela guerra na Ucrânia e pelo corte do gás russo, é um dos principais fatores por trás do crescimento da AfD. O gás, que antes chegava da Rússia a preços baixos, agora é importado dos EUA a custos até quatro vezes maiores. Isso impactou a competitividade industrial alemã, levando ao fechamento de fábricas e demissões em massa.

José Luís Del Roio, ex-senador italiano e especialista em Europa, destacou que o medo dos trabalhadores menos qualificados de perder empregos para imigrantes alimenta o apoio à extrema-direita. Atualmente, 18% da população alemã nasceu fora do país, e, considerando os filhos de imigrantes, esse número chega a 24%.

Impacto da guerra na Ucrânia

O apoio à Ucrânia também dividiu os eleitores. Enquanto partidos tradicionais defendem a continuidade da ajuda, a AfD e a BSW criticam a política de guerra, culpando-a pela crise econômica e pela onda de imigração. “O partido AfD destaca que a culpa é das guerras de destruição da Síria, do Iraque, da Líbia e da Iugoslávia, que fizeram chegar todos esses imigrantes na Alemanha”, explicou Del Roio.

Declínio do Partido Verde

O Partido Verde, que compõe o governo de Scholz, deve perder força nas eleições. A retomada do uso de carvão e outros combustíveis fósseis, em resposta à crise energética, minou a credibilidade da legenda. “A questão ambiental e climática tem tido menos repercussão nessa campanha”, avaliou Carolina Pavese, professora da FIA Business School.

A eleição alemã reflete um momento de transformação política, com o possível crescimento de forças antissistema e o declínio dos partidos tradicionais. O resultado terá impacto não apenas na Alemanha, mas em toda a União Europeia.