Dois confrontos de gerações fecharam a segunda etapa do Circuito Banco do Brasil de Surfe no domingo de ótimas ondas e praia lotada em Stella Maris, Salvador, Bahia. Dois surfistas de apenas 17 anos de idade fizeram suas primeiras finais em etapas do World Surf League (WSL) Qualifying Series.
A cearense Silvana Lima, 37 anos, ganhou a primeira decisão da paulista Kemily Sampaio. Já o catarinense Heitor Mueller festejou seu primeiro título derrotando o capixaba Krystian Kymerson, 29 anos, campeão da última etapa do QS realizada em Salvador 10 anos atrás.
A terceira e última etapa do Circuito Banco do Brasil de Surfe será em Ubatuba, litoral norte de São Paulo, nos dias 25 a 28 de agosto.
"Eu estou em êxtase e só queria agradecer a todo mundo que torce por mim, que me mandou positividade e energia boa. Essa praia é demais, gosto muito dela e estou muito feliz por ganhar o meu primeiro QS aqui”, disse Heitor Mueller, que assumiu a liderança em dois rankings com a vitória na Bahia, do Circuito Banco do Brasil e do Sul-americano da WSL Latin America, que já terá uma próxima etapa começando nesta terça-feira em Iquique, no Chile. “Vamos com tudo pra lá, com força e foco pra defender esses títulos aí”.
A vitória também levou Silvana Lima para a liderança no ranking especial do Circuito Banco do Brasil, empatada com a catarinense Tainá Hinckel, que a maior estrela do surfe feminino nacional derrotou nas semifinais do domingo. Silvana é patrocinada pelo BB Asset Management, fundo de investimentos do Banco do Brasil que também patrocina este circuito inédito com três etapas nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste do país. Esta foi a primeira vitória da cearense na temporada. A última havia sido em junho de 2022 no Equador.
“Eu acho que todo atleta quer se dar bem no evento do seu patrocinador, porque eles ficam mais felizes e esse era o meu foco”, disse Silvana Lima. “Mesmo estando com o joelho machucado, que não dava para forçar muito nas manobras porque vem toda aquela lembrança de quatro cirurgias, mas estou superfeliz e só gratidão por toda essa energia baiana. Eu já ganhei muitos eventos aqui, já morei aqui, então é barril Bahia”.
Silvana também destacou sobre a oportunidade criada pelo Circuito Banco do Brasil de Surfe, em descobrir novos talentos em cada região do país. Na primeira etapa, em Garopaba (SC), a final foi entre Tainá Hinckel, 19 anos, e Isabelle Nalu, de 15 anos apenas. Agora, na Bahia, Kemily Sampaio, 17 anos, chegou em sua primeira decisão em eventos da World Surf League e já aparece em terceiro no ranking do Circuito Banco do Brasil. Ela só está abaixo das líderes que venceram as duas etapas, Tainá Hinckel e Silvana Lima.
“Com certeza, as meninas estão tendo essa chance de mostrar que têm talento e de fazer bons resultados num QS bem jovens ainda”, disse Silvana Lima, que confirmou o favoritismo na final contra Kemily Sampaio, nas primeiras ondas que surfou. A paulista abriu a bateria fazendo duas manobras numa direita que valeram 4,67. Silvana também ataca duas vezes sua primeira onda, só que com mais força para ganhar 6,83. Logo, ela pega outra direita para combinar três batidas e rasgadas e receber 6,77, que já definiu a vitória por 13,60 a 7,74 pontos.
Para chegar em sua primeira final, Kemily Sampaio passou por outra surfista patrocinada pelo BB Asset Management, a cearense Juliana dos Santos, de 17 anos também. Apesar da derrota, a paulista era só felicidade: “Foi muito incrível. A Silvana é uma pessoa que me inspira muito, é uma guerreira e eu fiquei até nervosa, porque ela é uma gigante do surfe. Eu não consegui pegar boas ondas, mas estou muito feliz do mesmo jeito, porque foi minha primeira final no QS. Certamente, é um dia que ficará marcado na minha vida”.
O vice-campeão Krystian Kymerson também ficou feliz pelo resultado na final de altíssimo nível, só decidida após um longo suspense pela nota da onda que ele surfou nos segundos finais da bateria. O domingo amanheceu com as melhores ondas da semana na Praia de Stella Maris, com direitas e esquerdas de 3-4 pés, abrindo boas paredes e formando rampas para voar. Heitor Mueller manobrou forte e usou os aéreos também, para liquidar seus adversários.
RECORDE DO CIRCUITO – Nas semifinais, o catarinense de São Francisco do Sul, registrou um novo recorde de 16,44 pontos na categoria masculina do Circuito Banco do Brasil de Surfe. No confronto da nova geração com o paulista Gabriel Klaussner, Heitor somou notas 8,67 e 7,77 para superar os 16,27 pontos do potiguar Alan Jhones na sexta-feira. Na outra semifinal, Krystian Kymerson também destruiu as ondas de Stella Maris, para derrotar o potiguar Israel Junior por 15,74 a 13,67 pontos, com as notas 8,07 e 7,67 das suas melhores ondas.
"O Gabriel (Klaussner) surfa muito, respeito bastante ele e hoje tem altas ondas. A maré encheu, a onda ficou maior, mais pesada e consegui encaixar bem o meu surfe”, disse Heitor Mueller, que se espantou ao saber que tinha feito um novo recorde de pontos para o Circuito Banco do Brasil e que poderia assumir a liderança de dois rankings com a vitória na Bahia. “Que demais saber disso, desse recorde, nossa, estou muito feliz. E agora vou com tudo pra final, para liderar os rankings também. Estou muito focado e vou quebrar essas ondas, a prancha está muito boa e vou com tudo pra essa final”.
DECISÃO EMOCIONANTE – E Heitor Mueller entrou realmente determinado, já voando na sua primeira onda. Mas, a decisão foi disputada em altíssimo nível, do início ao fim dos 35 minutos da bateria. O catarinense foi rápido em pegar mais duas ondas boas e manobrou forte, variando batidas e rasgadas com velocidade, para somar notas 6,83 e 7,50. Krystian Kymerson escolhe uma esquerda para tentar entrar no jogo, porém ela fecha. Logo, acha uma direita para atacar de backside e faz uma série incrível de sete manobras, vibrando na finalização.
Ele precisava de 8,83 para assumir a dianteira e chega perto disso, recebendo 8,77, a maior nota da final. O capixaba diminui a diferença para 5,56, mas Heitor surfa bem outra onda boa, fazendo uma rasgada bem alongada, uma batida e um layback na junção. Ele troca 6,83 por 7,20 e amplia a vantagem para 5,93. O catarinense pega outra direita, já manda uma rasgada forte e mais uma manobra progressiva e inovadora do seu repertório, um aéreo alley-oop. Os juízes dão nota 8,00 e Krystian passa a precisar de 6,73 nos 5 minutos finais.
O capixaba ainda teve uma chance de repetir a vitória conquistada na última etapa do WSL Qualifying Series em Salvador, em 2012 na Praia de Jaguaribe. Ele pega uma onda no último minuto, que rende duas manobras verticais de backside e fica a expectativa pela nota, que demora a sair. Os dois se cumprimentam na areia e aguardam lado a lado pela análise dos juízes, que ficam utilizando o recurso do vídeo. Novamente, Krystian Kymerson fica muito perto da virada, recebe 6,57 e Heitor Mueller festeja sua primeira vitória por décimos de diferença, no placar encerrado em 15,50 a 15,34 pontos.
"Primeiramente, quero agradecer a Deus por estar nessa final. Foi um campeonato incrível, de alto nível e o Heitor (Mueller) já vinha se destacando, surfando muito bem o evento todo”, disse Krystian Kymerson. “A bateria foi bem disputada, lutei até o final e por décimos não consegui a vitória. Mas, estou feliz por readquirir a confiança e Salvador é um lugar muito especial para mim. Eu sempre vim para cá desde moleque, ganhei meu primeiro título de campeão brasileiro amador vencendo uma etapa aqui em Stella Maris, teve aquela vitória no QS também em 2012, então Salvador é um lugar muito especial pra mim”.
Um dos objetivos do Circuito Banco do Brasil de Surfe é descobrir novos talentos em cada região do país. São três etapas do Qualifying Series valendo pontos para os rankings regionais da WSL Latin America, classificatórios para o Challenger Series, único caminho para se chegar na elite do World Surf League Championship Tour. A primeira aconteceu em Santa Catarina, na Região Sul. Agora, teve essa do Nordeste em Salvador e a próxima será na Região Sudeste, de 25 a 28 de agosto em Ubatuba, litoral norte de São Paulo.