Mário Fernandes chegou a vestir a “amarelinha” em 2014, mas vai entrar em campo para defender a Rússia nas quartas de final da Copa do Mundo-2018, um país que “o transformou em outra pessoa” após superar uma depressão no país de origem.
O único jogo em que não foi titular no Mundial russo foi contra o Uruguai (derrota por 3 a 0), quando os anfitriões já estavam classificados para as oitavas de final. Seu reserva, Igor Smolnikov, jogou apenas 36 minutos e foi expulso.
Em nove jogos na seleção russa, Mário Fernandes se tornou indispensável para a equipe. A Rússia encara a Croácia por uma vaga nas semifinais.
Contra a Espanha, nas oitavas de final, Fernandes fez “um dos melhores jogos de sua carreira”, afirmou o jornal russo Sport Express.
Lateral do CSKA de Moscou desde 2012, o destino de Mário Fernandes poderia ter sido diferente com o Brasil. O jogador nasceu em São Caetano em 1990.
Com a Seleção brasileira, estreou em amistoso vencido por 4 a 0 sobre o Japão, em outubro de 2014. Foi o único jogo com a “Amarelinha”. Depois, demorou um ano e meio para conseguir a nacionalidade russa, estreando na equipe de Stanislav Cherchesov em 2017.
“A Rússia mudou sua vida. Diz que sua decisão de vir para a Rússia foi a melhor de sua vida, que encontrou seu lugar no mundo”, afirmou na semana passada o irmão de Mário Fernandes, citado pela imprensa russa.
– “Bebia muito” –
Para compreendê-lo é preciso relembrar o início da carreira do jogador no Brasil. Em março de 2009, semanas depois de ser contratado pelo Grêmio, o jogador de 18 anos desapareceu.
Foram necessário quatro dias de busca para encontrá-lo na casa de um tio, a 1.000 km de Porto Alegre. O jovem não tinha resistido à pressão durante sua transferência e foi hospitalizado durante um mês para tratar uma depressão.
“Só queria voltar para casa. Sinceramente, não gosto muito de falar sobre esse tema, mas direi uma coisa: não é divertido”, declarou o agora jogador russo, reticente em conversar com a imprensa.
Em 2011 também teve problemas. Após ser convocado para defender o Brasil em amistoso contra a Argentina, o lateral não se apresentou ao aeroporto.
“Não se sentia confortável com a ideia de jogar na seleção nacional”, justificou à época seu agente Jorge Machado, aludindo a “problemas pessoais”.
No CSKA, Mário Fernandes se impôs como melhor lateral direito do campeonato russo. Em outubro de 2015, explicou ao site Championat.com que se tornou “outra pessoa”.
“No Brasil eu bebia muito, passava a noite na boate e perdia treinamentos. Mas ao chegar em Moscou soube que existia uma igreja brasileira. As pessoas me ajudaram ali e mudei rapidamente”, contou.
Com apenas alguns jogos nesta Copa do Mundo, o olhar dos russos em direção a Mário Fernandes também mudou.
“Antes do torneio, muitos se perguntavam porque precisávamos que ele se nacionalizasse sem sequer falar russo. É pouco provável alguém se questione sobre isto agora”, destacou o Sport Express.
AFP // AO